Crônica a farsa do pescador
Ontem, encontrei alguns amigos pecadores. O mundo do pescador é surreal quando se reúnem para contas as “façanhas” de uma pescaria. Muitas vezes tentam fazer você acreditar nos exageros que os pescadores utilizam ao comentar o que fizeram.
Nunca tinha pescado na minha vida. Fui convidado varias vezes e sempre recusei. Motivo: sou urbano, gosto de barulho, o silêncio me deprime, Mas dessa vez não recusei o convite, pensei: vou encarar ficar sem celular, sem meu banheiro, agitação do dia a dia, mas dessa vez eu irei para conhecer o universo do pescador.
Lá fomos nós para divisa natural entre Goiás e Mato Grosso, o rio Araguaia é um dos locais de pesca, segundo os amigos pecadores, onde se encontra a maior variedade de espécies. Pintado, Tucunaré (açu, pintado, amarelo, paca), Pirarucu, Piaba, Piau, Barbado e mais algumas dezenas de espécies são os principais atrativos para quem quer voltar para casa e contar boas histórias. A minha apenas estava começando.
Equipamento de pesca no carro, repelente e protetor solar na mochila, para mim começaram os exageros. Mas fazer o quê?
Meus companheiros de pesca eram todos pescadores esportistas, uma vez ao ano, eles se reuniam rumo a pescaria. Estava eu ao lado de um médico, me senti seguro, um padre e um engenheiro agrônomo. São pessoas acima de qualquer suspeita em seus respectivos campos profissionais, mas quando se trata de peixe, a coisa é bem diferente.
Uns dias antes da viagem nos reuniram para definir detalhes. Ouvi histórias, fiquei fascinado. Todos juraram que já tinham conseguido a façanha de pescar, nesse mesmo lugar descrito acima, mas de 300 Tucurané em menos de 15 minutos. Eu logo pensei? Vai ser divertido, dinâmico, ficarei agitado.
Não contentes com a mentira inicial, ainda aumentaram, dizendo que cada um deles havia pescado essa cota de 300. Que depois eles ficavam na barraca comendo peixe e apreciando a paisagem, bebendo cerveja, vinho e uma boa cachaça. Eu pensei isso vai ficar monótono. Foi ai que eu duvidei, e pedi alguma prova disso, e foi onde a mentira ficou insustentável. Até o padre ficou de boca trancada.
Amigos, os peixes, tadinhos, num passe de mágica, desapareciam do samburá, o que impedia que a pescaria fosse comprovada.