SACCO & VANZETTI
SACCO & VANZETTI
Nelson Marzullo Tangerini
Mais uma vez releio o livro Sacco & Vanzetti, de Howard Fast, e, novamente, me me comovo com o sofrimento de Nicola Sacco e Bartolomeo Vanzetti, condenados à morte por um crime que não cometeram.
Enfim, foram assassinados pelo brutal capitalismo americano e pela histeria de um juiz xenófobo, que odiava imigrantes e vermelhos. Saco & Vanzetti eram italianos e anarquistas. Mas isto fazia pouca diferença para fundamentalistas.
Uma fábrica de Massachussets foi assaltada no dia do pagamento dos operários e, no assalto, dois seguranças foram assassinados.
O sapateiro Nicola Sacco estava no Consulado da Itália em Boston, onde resolvia problemas referentes à imigração; Bartolomeo Vanzetti, peixeiro, trabalhava em sua banca, numa rua da cidade.
Eram 1920. Há pouco, em 1917, o comunismo chegava ao poder na Rússia. O fantasma do comunismo, portanto, assustava e tirava o sono dos capitalistas americanos, obcecados por dinheiro. Era preciso eliminar os “vermelhos”.
Os trabalhadores deviam ser obedientes, aceitar a exploração, salários miseráveis e rezar pelo bem do patrão. Assim é o capitalismo. Lutar pela igualdade social, lutar contra a escravidão, era crime, sinônimo de comunismo.
Nos primeiros anos do século 19, muitos italianos deixavam a Itália e tentavam a vida na América. O sonho da prosperidade, o sonho de fazer a América, era uma ilusão, porque os italianos, considerados raça inferior, deveriam trabalhar até a exaustão – sem reclamar e sem poder lutar pelos seus direitos.
Quem tinha linhagem, quem descendia dos antigos colonizadores ingleses, os mesmos que dizimaram quase toda a população ameríndia, era considerado a raça superior.
Se a vida era dura na Itália, onde a popularidade de Mussolini crescia, pior era viver na América. Os italianos fugiam da miséria, do desemprego e do fascismo e acabavam escravos do capitalismo americano, que tinha sua própria versão do fascismo.
Para homens de ideias, homens que acreditavam nos ideais socialistas, comunistas e anarquistas, não havia como sobreviver – na Itália ou na América.
Mussolini exibia seus músculos, sorria e dizia, com todas as letras, que se orgulhava por ter fuzilado os vermelhos da Itália.
Releio Sacco & Vanzetti, de Howard Fast, judeu americano, que descreve como os judeus eram também discriminados. Seu coração caridoso e sensível abraçou, enfim, a causa daqueles italianos que vieram a morrer em cadeiras elétricas, ainda ninguém pudesse provar que eram assassinos.
Todos aqueles que defendem a pena de morte, deviam ler este livro de Fast, porque dois homens inocentes foram fuzilados. Nicola Sacco, por exemplo, deixou para uma jovem viúva e dois filhos pequeninos: Dante e Inês.
É um livro duro, mas comovente. Mataram dois anarquistas que acreditavam numa humanidade mais fraterna e mais justa, mas suas ideias sobrevivem e dão frutos que brotam em todo o mundo, porque a anarquia requer estudo racional e sério; e a palavra não é sinônima de desordem, bagunça. A desordem e as desigualdades sociais, todos nós sabemos, são causadas pelo estado, que sobrevive graças a aparatos policiais e religiosos.
Eternamente, a memória e a imagem de Sacco & Vanzetti serão símbolos de luta contra a exploração social, a discriminação racial e o fascismo.