MEUS PORÕES SOMBRIOS
Vivo tentando entender essa coisa que guardo dentro da cabeça,
quero tanto vasculhar seus quatro cantos,
quero tanto domar seus cheiros, suas rebarbas,
alcançar porões sombrios, varandas açucaradas,
vagões submersos guardados a sete chaves.
Por vezes chuto meu sono longe no empenho de desnudar
assustados passos, impetuosos caminhos,
mas sempre caio no vazio da dúvida, da embriaguez plena,
encouraçada fortaleza sem portas, sem janelas.
Lembro do tanto que já me fiz do avesso,
querendo revirar seus encantos proibidos,
reinados estranhos que mandam no meu andar, no meu querer,
no meu abraçar, no meu lutar, no meu tudo,
e sempre me acabo no vazio dos porquês eternos.
Essa mente sem espelhos, sem vãos, sem algoz,
é ela que liberta os empurrões que me levam além,
é ela que doutrina os gritos ensandecidos que driblam meu voar,
é ela que acalma as trovoadas teimosas que revoam do nada,
Talvez leve várias vidas pra achar seu fio da meada,
talvez precise descarrilhar pra encarar suas leis,
talvez precise explodir pra tocar seu coração,
talvez precise cutucar Deus pra ouvir seus sussurros,
talvez precise dopar o mundo pra descobrir onde repousa sua alma.