Menina atrevida

Agora que você chegou pensei em fazer uma surpresa - disse Luana ao pai quando ele voltou do trabalho. A preocupação da adolescente era sempre agradar seu querido pai, pois via estampado em seu rosto a tristeza de ter perdido o seu grande amor, de ter aquela sensação de infelicidade.

Certo dia, Dona Eliana, vizinha de Luana, mulher louca para conquistar o pai da garotinha, começou a varrer a calçada da jovem. Percebeu-se logo que era uma maneira de disfarce porque o que queria mesmo era observar o bonitão do pai da menina. Entretanto, ele nem dava muita atenção, apenas sorria de forma melancólica e nunca demorava para virar as costas e iniciar sua caminhada.

Luana ficou a pensar sobre o tempo que seu papai estava tão sozinho. Sua mãe, mulher bonita, cabelos negros, pele clara, rosto fino, lábios carnudos e orelhas pequenas, uma jovem senhora dedicada e fiel. Seriam esses então os pensamentos de seu pai? Ela achava que a solidão dele o estava destruindo por dentro. A semana passou devagar e o final de semana chegara. Luana havia pensado em fazer um bolo para o seu pai, por isso pedia incansavelmente que ele comprasse os ingredientes da receita que recebera de sua avó. A receita era tradição familiar e sua mãe também a tinha , mas nunca passara para ela porque achava que sua filhinha era pequena demais para mexer nos equipamentos da casa, principalmente o forno. Sua avó, por outro lado, tinha o conceito de que Luana era uma garota esperta e inteligente além de sua idade. A conversa da menina era como de gente grande, ela falava sobre economia e cálculos parecendo o contador da loja de seu pai, falava sobre o que esperava do futuro e de seus sonhos a curto e longo prazo. Sua avó a admirava e se questionava de onde viera tanta inteligência: Da família? Do pai ou da mãe? Ou geneticamente ela fora um aperfeiçoamento? Seja como for, a donzela esbanjava sensatez.

O que a sapeca resolveu fazer foi investir seu tempo para encontrar uma nova mãe para ela e uma esposa para seu pai. Ficou horas pensando nas madames de sua pequena cidade do interior, porém não encontrava ninguém que chegasse perto de sua amada e querida mãe. É lógico que cogitou até em avaliar as professoras e dirigentes da escola em que estudava. Passou-se duas semanas, dentre essas ela preparou o bolo para seu pai, conversou sobre o assunto com sua melhor amiga e indagou sua avó que achou estranho aquela conversa muito íntima.

Após um mês de pensamentos inquietantes e análises profundas de personalidades, Luana resolveu que definitivamente Dona Eliana não seria a mulher ideal para o seu amado pai. O que aquela cabeça tenra queria era que a tia de sua melhor amiga fosse a próxima paixão do papai. Firme nesta decisão, a garotinha resolveu planejar tudo com sua amiga para que a ajudasse a executar uma estratégia ousada a fim de aproximar o querido papai da titia de Mariana.

Acontece que de tanto ficar pensando nessas ideias malucas de servir como cupido, Luana acabou deixando que seu rendimento escolar baixasse. Diante deste cenário a escola decidiu chamar seu pai para saber o porquê sua filha estava distraída durante as aulas. Após receber todas as informações com a direção escolar, Rodolfo voltou para casa decidido a conversar com sua filha.

Calmamente, porém com firmeza, o pai, então achando que sua amada menininha estava necessitando de uma correção, resolveu atender aos apelos chorosos da garotinha. Ela explicou tudo o que estava acontecendo. Após ouvi-lá, resolve atender Luana, que chorando lhe diz que sua intenção era ver o seu pai alegre de novo e, graças a festinha junina da escola, conhece o tão esperado amor, a Tia de Amanda.