Nem pense que vamos falar do BIP, dispositivo eletrônico usado para contatar pessoas através de uma rede de telecomunicações. A matéria aqui, em foco, refere-se ao Bolotim Interno de Pessoal que ciruculou durante dez anos, no âmbito das agências do Banco do Brasil. Nele, sempre aprecia uma página intitulada: " História não escrita" muito interessante, porque versava, normalmente, sobre fatos do cotidiano bancário. Esta que contamos, não foi escrita, ou melhor, não foi publicada lá. Até caberia naquele espaço, mas quando produzimos o texto, o jornalzinho não circulava mais.
Aconteceu que Vilmar Fontes chegara de Montes Claros para tomar posse em São Francisco. Ora, Montes Claros, desde aqueles tempos — anos 70 — já era considerada a capital no Norte de Minas. E, por ser uma cidade desenvolvida culturalmente, Vilmar trazia de lá uma bagagem de conhecimento científico adquirido no Colégio Biotécnico. Ele sabia, além de Português, também Química, Física, Biologia etc., Estava pronto para o vestibular quando foi aprovado em concurso do Banco do Brasil.
Tomou posse no setor rural e estranhou aqueles nomes difíceis: Cédula Rural Hipotecária, Cédula Rural Pignoratícia, Cédula Rural Pignoratícia e Hipotecária... Esta última, então, complicadíssima, porque além de penhor (pignoratícia), também vinculava hipoteca de imóveis. Tudo isso dactilografado. Cada uma dessas cédulas tinha suas minutas específicas e algumas minutas eram de uso comum tanto às pignoratícias, quanto às hipotecárias ou pignoratícias e hipotecárias.
Talvez ele, Vilmar, não fosse um exímio datilógrafo, mas prometia ser um bom funcionário e por isso, lhe foi dada a incumbência de elaborar cédulas de crédito. Começaria pela cédula rural pignoratícia(CRP) e depois, passaria a confeccionar também a assustadora pignoratícia hipotecária (CRPH).
Algumas minutas eram indispensáveis quando houvesse penhor e aí lhe foi passada a Codificação de Instruções Circulares, catalogadas em volumes chamados CIC, para que transcrevesse as minutas e tomasse conhecimento das normas de crédito.
Depois de afanoso dia de trabalho, eis que apresenta ao chefe sua CRP com várias páginas e sem nenhuma rasura. Mas, ao conferir o instrumento de crédito o chefe deparou-se com uma palavra estranha ao ofício, talvez uma descrição errônea da minuta, pois o funcionário escrevera: “Em penhor celular de primeiro grau a ser inscrito e sem concorrência de terceiros...”
O chefe devolveu a cédula, com um bilhetinho : “Em penhor cedular... veja a minuta x da CIC Rural”.
Ora, chefe – retrucou Vilmar — o correto é penhor celular, a CIC está errada. Animal tem é célula. Se é penhor de animal, só pode ser celular.
Naturalmente, não foi Vilmar o inventor da telefonia celular que, naquele tempo, ainda não existia, mas o penhor celular, ele inventou. Pena que não pôde ser inserido na minuta.
Até certo ponto o colega estava certo: se o penhor é de bovino, por que não celular? Com certeza, depois ele entendeu que o penhor se vinculava a uma cédula de crédito, por isso, cedular.
Bons tempos, meu amigo Vilmar.
Espero que um dia leias esta crônica, e lendo-a, não fique zangado comigo. Posso ter inventado a história. Talvez sim, talvez não...
Aconteceu que Vilmar Fontes chegara de Montes Claros para tomar posse em São Francisco. Ora, Montes Claros, desde aqueles tempos — anos 70 — já era considerada a capital no Norte de Minas. E, por ser uma cidade desenvolvida culturalmente, Vilmar trazia de lá uma bagagem de conhecimento científico adquirido no Colégio Biotécnico. Ele sabia, além de Português, também Química, Física, Biologia etc., Estava pronto para o vestibular quando foi aprovado em concurso do Banco do Brasil.
Tomou posse no setor rural e estranhou aqueles nomes difíceis: Cédula Rural Hipotecária, Cédula Rural Pignoratícia, Cédula Rural Pignoratícia e Hipotecária... Esta última, então, complicadíssima, porque além de penhor (pignoratícia), também vinculava hipoteca de imóveis. Tudo isso dactilografado. Cada uma dessas cédulas tinha suas minutas específicas e algumas minutas eram de uso comum tanto às pignoratícias, quanto às hipotecárias ou pignoratícias e hipotecárias.
Talvez ele, Vilmar, não fosse um exímio datilógrafo, mas prometia ser um bom funcionário e por isso, lhe foi dada a incumbência de elaborar cédulas de crédito. Começaria pela cédula rural pignoratícia(CRP) e depois, passaria a confeccionar também a assustadora pignoratícia hipotecária (CRPH).
Algumas minutas eram indispensáveis quando houvesse penhor e aí lhe foi passada a Codificação de Instruções Circulares, catalogadas em volumes chamados CIC, para que transcrevesse as minutas e tomasse conhecimento das normas de crédito.
Depois de afanoso dia de trabalho, eis que apresenta ao chefe sua CRP com várias páginas e sem nenhuma rasura. Mas, ao conferir o instrumento de crédito o chefe deparou-se com uma palavra estranha ao ofício, talvez uma descrição errônea da minuta, pois o funcionário escrevera: “Em penhor celular de primeiro grau a ser inscrito e sem concorrência de terceiros...”
O chefe devolveu a cédula, com um bilhetinho : “Em penhor cedular... veja a minuta x da CIC Rural”.
Ora, chefe – retrucou Vilmar — o correto é penhor celular, a CIC está errada. Animal tem é célula. Se é penhor de animal, só pode ser celular.
Naturalmente, não foi Vilmar o inventor da telefonia celular que, naquele tempo, ainda não existia, mas o penhor celular, ele inventou. Pena que não pôde ser inserido na minuta.
Até certo ponto o colega estava certo: se o penhor é de bovino, por que não celular? Com certeza, depois ele entendeu que o penhor se vinculava a uma cédula de crédito, por isso, cedular.
Bons tempos, meu amigo Vilmar.
Espero que um dia leias esta crônica, e lendo-a, não fique zangado comigo. Posso ter inventado a história. Talvez sim, talvez não...
Adalberto Lima
Enviado por Adalberto Lima em 05/08/2019