Os loucos* (22/07/2019)
Os loucos são meio que anônimos, mas também não fazem questão de notoriedade. Os loucos não amam ninguém, mas também não odeiam. Os loucos não sorriem, não falam, não choram. Os loucos não temem a morte, menos ainda temem a vida.
Os loucos não envelhecem e também nunca foram crianças. Eles já nasceram grandes. Os loucos não têm país nem mães, são filhos de todos nós. Se eles carregam alguma culpa? Não sei, os loucos nunca reclamam.
Os loucos não vivem em sociedade, mas também não são tribais. Os loucos não rasgam dinheiro, eles não são consumistas. Os loucos não são andarilhos, eles são livres.
Os loucos não têm sonhos. Não têm ambição, não têm possessão, não têm coração, não têm cartão de crédito... o que lhes serve é o que lhes basta. E eles se bastam.
Os loucos não trabalham, o que não quer dizer que não batalham. Há uma guerra dentro deles. E a cada dia eles renascem.
Os loucos não cobiçam, não invejam, não praguejam, não desistem... - Os loucos são incompreendidos por serem donos de si mesmos.
Não há loucos em shoppings, em cadeiras de dentistas, em restaurantes, em cinemas... - Não há loucos na política. Não os vemos em zoológicos, em igrejas, em motéis. Os loucos se masturbam como se fizessem um poema para o mundo.
(...)
Os loucos não têm síndromes, depressão, diabetes, sífilis... - Eles não adoecem. Os loucos não morrem. Simplesmente, desaparecem sem se despedir da gente. Vivemos num grande hospício onde quem não for louco ficará à mercê da própria sorte.