Domingando...

Hoje, logo após o meu café da manhã nesse domingo chuvoso, ao abrir as cortinas da janela do meu apartamento para arejar o ambiente, me chamou atenção a visão que tive de uma pessoa que, quase que se arrastando caminhava solitária e vagarosamente pelo calçadão em direção ao Posto Seis. Não consegui distinguir se tratava-se de um homem ou de uma mulher.

Mas a minha atenção foi despertada mesmo, pelo fato de que, por estar totalmente enrolada em um cobertor, aquela pessoa caminhava de tal forma que até parecia ser um daqueles "zumbis", personagem saído daquele famoso clipe; thriller, do Michael Jackson...

Mesmo de longe, percebia-se nítidamente que aquela pitoresca criatura só poderia ser um daqueles sofridos e miseráveis moradores de rua...

Fiquei ali parado, observando aquela triste cena que diante dos meus olhos se desenrolava naquela chuvosa e fria manhã que fazia aqui na Cidade Maravilhosa, ao mesmo tempo em que procurava no meu imaginário encontrar alguma explicação do que poderia ser capaz de levar um ser humano a vir um dia se encontrar em uma situação daquelas; de vir a se sentir, mesmo em meio à uma multidão, totalmente só, abandonado e envolto talvez pelo resto da sua vida, pelo nefasto manto sombrio da solidão. Sentindo-se triste mesmo em se encontrando, como era o seu caso, em um lugar paradisíaco como aquele; um lugar cujo cenário foi planejado por Deus e desenhado pela própria natureza. Um lugar em que, quando o sol aparece, proporciona gratuitamente a quem por ali passa, a ventura de poder apreciar, bem lá ao fundo a imensidão azul do céu que, no horizonte até se confunde com o azul do mar, proporcionando ao observador uma das mais belas visões do Oceano Atlantico...

Fico ali por alguns minutos, com o meu olhar perdido naquela bruma cinzenta, como que tentando visualizar aquele horizonte que nos domingos ensolarados enfeita e envolve aquela alegre balbúrdia causada pelo rompante destemperado de alegria que emana daquela multidão de seres de pele bronzeada que, como se fossem rendas a enfeitar a saia rodada de uma cigana, movimentam-se incessantemente sob o brilho do nosso astro-rei...

Mas hoje é um domingo chuvoso; dia de domingar...

Então eu fecho novamente as cortinas e recolho-me à minha insignificância. E é domingando, que pego o meu Leviatã me atiro com ele no meu sofá favorito, literalmente mergulhando pela enésima vez nas releituras desse fabuloso filósofo inglês Thomas Hobbes.