SEMPRE ÀS QUARTAS FEIRAS


Mal raiava o dia e as vizinhas, combinadas de portão em portão (Telefone era coisa fora do imaginário) reuniam-se tomando o caminho da mata.
Frutas, agradinhos, palheiros...Tudo carregado em sacolinhas de pano, feitas à mão, compartilhados, faziam um quase pique nique pelos potreiros.
Felizes ! Cachorros e criançada corriam à frente das tagarelas, brincando pelos carreirinhos.
Vez e outra dava-se de encontro com carroças e seus animados passageiros.
Os assuntos eram os mais variados e o destino era catar vassouras de tupixabas.A mata rala cumpria seu papel,oferecendo gabirobas,uvaias e jabuticabas nas manhãs mornas de verão. Araticuns e pinhões nas nevoentas matinas de inverno.
No caminho de volta, a comitiva verdejava nas mãos os arbustos colhidos ,enquanto engendrava qual seria a "mistura" que faria a alegria do feijão com arroz na hora do almoço.
Na despedida, o convite para o café das três.
E quando chegava o meado da tarde,uma e outra vizinha aportava trazendo metade de um pão fresquinho para "ajudar no café".
Assim, enquanto os quintais incensavam-se ao cheiro adociado das vassouras de tupixaba queimando no braseiro proximo à fornalha, a mesa era uma espécie de altar onde o alimento sagrado compartilhava-se entre a vizinhança.
As comadres rasgavam-se em elogios à qualidade e textura desta ou daquela massa ,a crocância da "casquinha" e a criançada gulosa , de boca cheia, tecia planos para o que ainda restava do dia.
Quando a boca da noite mordia a agonia da tarde,a vila cheirava ao mel das vassouras.As fornalhas resguardavam-se ainda aquecidas e as janelinhas , feito olhos noturnos absortos, espiavam a lentidão das horas.
Algo de especial, um quê de "quase divino" ungia o meio da semana.
Afinal, nas quartas feiras era o dia da "fazedura do pão".

Joel Gomes  Teixeira