NUMA ESCOLA DA SÍRIA

DESUMANO, DEMASIADO DESUMANO

Nelson Marzullo Tangerini

Estou diante da televisão, que despeja violência e alienação em minha casa, e de uma frase do filósofo alemão Friedrich Wilhelm Nietzsche: “O homem é uma corda atada entre o animal e além-do-homem - uma corda sobre o abismo”.

Sou um admirador da vida animal, a qual costumamos chamar de irracional, quero abrir uma discussão: Quem são os animais irracionais e quem são os racionais?

Há dias fiquei muito chocado quando vi, num telejornal, que uma bomba caíra em uma escola, em Aleppo, Síria, matando sete crianças. Vi o restante dos alunos correndo em grupo e gritando desesperadamente por socorro. Sou professor e, naquele exato momento, direcionei meu pensamento para a garotada no pátio da escola onde trabalho. Aquele vozerio alto e a gesticulação exagerada são a metáfora da alegria – de contar para o outro como foram suas férias, seu feriado e seu final de semana.

Numa escola da Síria, a meu ver, deveria haver, também, o vozerio alegre e descontraído das crianças, como sói acontecer em todas as escolas do mundo, mas os sádicos, os ditadores, os fundamentalistas odeiam a cultura, a alegria, a liberdade e a vida.

Estamos mesmo nos equilibrando numa corda sobre um abismo que parece não ter fundo? Somos mesmo seres racionais? Ou há no mundo uma nova espécie de ser humano em formação? O homem violento e desumano que a miopia de Darwin deixou passar?

A televisão vomita violência em nossas salas de estar. Ou vemos a realidade ou nos alienamos. Se sabemos da existência da violência máxima, sem limites para a crueldade, supomos que podemos ser as próximas vítimas. E se nos recusamos a assistir aos telejornais, podemos sair desatentos pelas ruas de nossa cidade.

Não faz muito tempo, alguns sádicos saíam pelas ruas da cidade do Rio de Janeiro esfaqueando pessoas que iam ou vinham do trabalho, da escola, da universidade ou do passeio. O autoritário e desumano Estado Islâmico parece ter influenciado essa gentalha desequilibrada e os detentos de uma penitenciária amazônica que degolaram seus rivais da facção criminosa a que pertencem, a ponto de sermos novamente notícia negativa no mundo inteiro.

O desumano, demasiadamente desumano está distanciando o homem, este primata irracional, de seu compromisso com o super-homem. E percebemos, ainda, que o processo de evolução da espécie é lento, muito lento e que ainda estamos muito próximos da barbárie, daquele homem primitivo que decidia as coisas com o porrete na mão ou puxava a mulher escolhida “democraticamente” pelos cabelos.

Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 02/08/2019
Reeditado em 02/08/2019
Código do texto: T6710888
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