A INSENSATEZ DA HUMANIDADE

A palavra semeada pode ser flor,

Também pode ser espinho

Pode indicar a estrada,

Ou confundir o caminho,

Pode semear a paz

Ou fomentar a guerra!

Pode ser a luz do mundo

Ou o flagelo da terra!

(Maria do Socorro Domingos)

Com o avanço da tecnologia e o acesso aos recursos midiáticos, cada ser humano se transformou em um depósito bélico em potencial, com bombas armazenadas nas pontas das línguas e dos dedos.

Em um minuto, por qualquer contrariedade, desentendimento ou divergência de credo, ideologia, seja lá de que for, esse ser humano que se intitula cem por cento família, politicamente correto, consciente de seus atos, que vive acenando com uma bandeira de fé, de paz, que se intitula um defensor da moral e dos bons costumes, lança mão de um teclado de computador, de um celular e, sem pensar nas conseqüências de seus atos, destrói a carreira, os sonhos, a dignidade, a integridade moral e , infelizmente, até mesmo física, de um seu semelhante.

Esse mesmo ser humano que se enternece com o carinho entre dois pombinhos numa praça, que move mundos e fundos para salvar um gambazinho que caiu dentro de um esgoto, que é capaz de amar com tanta intensidade um animalzinho de estimação,( atitudes mais que dignas de louvor )lança mão de um ódio tão violento e, sem medir conseqüências,tecla compulsivamente, fala compulsivamente, registra todo o seu rancor ( revelando o seu interior embrutecido pela ignorância espiritual ) e manda bala nas redes sociais.

A tecnologia avançando, a ciência evoluindo, mais acesso às informações(graças aos meios de comunicação, através de recursos de whatsapp Face book, instagran e tantos outros mais) e o ser humano embrutecendo, perdendo a noção do que é viver em sociedade, conviver com as diferenças, habitar em comunidade, perdendo os princípios de cidadania, esquecendo todas as boas práticas de convivências conquistadas por seus ancestrais e partindo para uma ignorância medonha que dá medo e que , infelizmente, todos nós sabemos onde vai terminar.

O humano - e o seu ódio desmedido - está destruindo o mundo!

Os animais brigam para marcar seus territórios e matam outro animal quando precisam de alimento para sobreviver. Não destroem a fauna, a flora, não espalham o ódio e nem exterminam as outras espécies.

O humano mata por prazer, fere por prazer, denigre a honra do outro por um mórbido prazer, basta que esse outro humano esteja em um lado divergente do seu. Não tem o mínimo cuidado com o que fala, escreve, com as notícias que recebe e passa à frente, com a família do outro, com a fragilidade física e emocional do seu semelhante, enfim, nada o detém quando contrariado, tem que marcar o seu território, gritar mais alto e dizer: “Eu sou o tal”.

A terra vive momentos terríveis. Os humanos se debatem numa onda de lama causada pela corrupção, sofrem com escassez de água, alimentos, de habitação, pessoas morrem de desnutrição, irmãos perambulam estrada a fora, tentando ultrapassar as fronteiras territoriais e passar para outros países, lançando-se ao mar à mercê da sorte, tudo isso para fugir da fome e da miséria que, em decorrência da falta de caráter, de amor ao próximo, competência , bom senso, responsabilidade cívica, política e social por partes dos detentores do poder , são submetidos, obrigados a viver num flagelo, uma indigência tão grande que nem se pode descrever.

As famílias se deterioram. Seus componentes já não podem perder tempo para as brincadeiras dos filhos e nem para a fragilidade de seus velhos pais.

A moda agora é bombardear ( da maneira mais terrível ) qualquer atitude tomada pelo outro que não se coadune com o pensamento, com o estilo de vida, com a crença daquele que,

de forma irredutível, cria os seus próprios parâmetros, dando-os com certos e deles não arreda o pé.

O Brasil, nossa pátria mãe gentil, cheia de encantos e beleza, que figura no mapa múndi como um grande coração, de braços abertos aos irmãos de outras nações, tornou-se – de forma infeliz – o carro chefe da beligerância midiática. Qualquer pessoa, com simples clic, uma fração de segundo, lança uma bomba e devasta a vida, a família, a reputação de outra pessoa, pouco importando o resultado de seu nefasto ato.

Não faz tanto tempo assim que uma pessoa, dando evasão ao seu instinto do mal, publicou nas redes sociais a fotografia de uma mulher, com a notícia de que ela era seguidora de uma seita que praticava o sacrifício de vidas e que a mesma havia sequestrado uma criança para submeter ao tenebroso ritual. Por triste coincidência, havia, em Guarujá- SP, uma mulher com características parecidas. Ao vê-la, alguém gritou: “Aquela é a bruxa sequestradora!” e,naquele momento, estava instalado o tribunal de inquisição.Pessoas se aglomeraram, viraram juízes, justiceiros, flagelaram a pobre moça até que ela não tivesse mais forças e ela,infelizmente, faleceu.

Uma pessoa inocente (e mesmo que fosse culpada, a quem caberia julgar e determinar a pena?) foi humilhada, pisoteada, sacrificada até a morte, por causa de uma notícia registrada numa rede social.

Incidentes iguais ou quase iguais a esse são corriqueiros no mundo e, em particular, em nosso país, hoje em dia. Não há lugar para o diálogo construtivo, para as condutas ponderadas, para o bom trato entre as pessoas, a responsabilidade para com o semelhante, o zelo pela coisa pública, a igualdade e a fraternidade entre os racionais.

Parece até(desculpem a franqueza) que o nosso país foi invadido por uma falange de espíritos do mal que, a qualquer custo tenta imprimir uma marca, estabelecer um império, mandar e desmandar, pouco se importando com o resultado de suas ações.

Não quero aqui dar lições de boas condutas, falar sobre crenças, opções diferentes, política (essa briga de cachorro doido já está abarrotada e passando dos limites da compreensão humana), até porque, como todos de minha espécie, tenho as minhas falhas, meus medos, minhas omissões e sim, conclamar a você, que ora perde um pouco de tempo com a leitura desse desabafo, para uma reflexão:

Pode alguém que se diz justo, praticar injustiças?

Pode alguém que se intitula defensor da verdade, disseminar mentiras?

Pode alguém que luta por igualdade, pela paz social, semear a discórdia e tratar ao outro como desigual?

Maria do Socorro Domingos

João Pessoa, 02/08/2019

Mariamaria JPessoa Pb
Enviado por Mariamaria JPessoa Pb em 02/08/2019
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