Salve Jorge
Pesado como o mar, Jorge caminhava em direção ao seu destino. Toda mínima coisa que lhe punham ao caminho era amada e elevada a distração sublime. Números viravam universos e ratos viravam demônios. A mais pífia bugiganga era estudada com afinco. O mais tosco truque tirava-lhe a pressa por horas, já que seus cobradores se encontravam longe, no destino.
A noite, quando não haviam mais fogos e bandeiras, Jorge dormia com o coração galopando. Fingia desconhecer os sonhos que gritavam simultaneamente a firmeza da terra e a beleza do mar. As silenciosas estrelas assistiam ao incêndio do homem dentro de roupas inflamáveis de menino.
Ao despir-se, Jorge se viu são. Só. Tolo. Acordando de um sonho tão real que seu desconhecimento por parte do outro era um insulto. Jorge estava sozinho, mas tinha razão. Tinha recebido um sinal do tempo, e havia de decifra-lo.
Mas o caminho era demasiado reto. Não haviam desvios o suficiente para fornecer o tempo necessário. O desafio era insolúvel, ou o homem era lento demais.
Eis que Jorge, caminhando a pés de curupira, Corre. Avista uma manada cinematográfica de elefantes, guardados por uma guria de não mais de vinte anos.
"Pode ir vê-los" Ela disse.
"Pode tocá-los, se quiser. Mas sua camisa colorida os assusta. Terá que despi-la."
Jorge então escuta desperto a explosão de vozes que habitam seu sono. Tem medo, tem vergonha. Grita com a guria que ela não sabe quem é Jorge. E foge. Amaldiçoando a guria, os elefantes, o destino, a camisa, e Jorge. Sem perceber, corre todo seu caminho e repara que seu destino está a vista, e que ele próprio pode ser visto. Caminha lentamente com trejeitos de cansaço enquanto seu coração jovial vibra. Seus pensamentos se encontram absortos em sinais e segredos.
Jorge chega, cumprimenta-os ao costume de seu corpo, e pronto. O pagamento está feito. Mas os olhares maliciosos a sua volta indicam que ele ainda não está livre. Precisa sair dali.
Uma única saída se abre a sua frente.
É um lago tão gelado quanto profundo, situado na encosta da montanha mais alta. Jorge sabe que nesse lago há uma caverna famosa, com desemboque desconhecido. Ele Mergulha.
As roupas o atrasam, mas nu, Jorge não pode ser alcançado. Ele continua. Já não há perseguição. Agora a pressa é pela sobrevivência. Quase sem fôlego, toca uma mão que o salva.
Se ergue da água e respira fundo ao se ver acompanhado da guria e de seus cobradores.
É uma Savana. Jorge nunca foi tão feliz