TEATRO DE REVISTA V
TUDO PELO BRASIL
Nelson Marzullo Tangerini
Os teatrólogos e poetas satíricos “parisienses” Nestor Tangerini e Luiz Leitão eram amigos inseparáveis. Tinham de se reinventar, após a demolição, em 1933, do legendário Café Paris, ponto de encontro de poetas fluminenses, no início dos anos 1920. O famoso Hotel e Café Paris, por fim, deu lugar à Avenida Amaral Peixoto, no centro de Niterói.
Ainda em 1933, Tangerini e o niteroiense Lili Leitão, seu amigo, escrevem juntos a peça Tudo pelo Brasil, “Sensacional revista em 2 atos”, encenada no Teatro João Caetano, “com maravilhosas músicas de Jeronymo Cabral, números de Sá Pereira, Jota Machado, Jota Soares e Milton Amaral”. Alguns esquetes eram escritos em parceria; outros, de Tangerini ou de Leitão, separadamente.
A referida revista, encenada pela Empresa Nacional de Teatro Limitada, com direção de João de Deus e tendo como maestros Jeronymo Cabral e J. Aymberê tem, no elenco, Ítala Ferreira, Luzia Fonseca, Nair Alves (irmã do cantor Francisco Alves, O Rei da Voz), Lisette Cisnes, Irene Ferreira, Maria Isabel, Antônieta Fonseca, Manoelino Teixeira, Affonso Stuart, J. Figueiredo, Arnaldo Coutinho, Ildefonso Norat, Oscar Cardona (tio de Oscarito), Arthur Castro, O. Aranha, além da participação dos “Bailarinos excêntricos” Gualter Silva e Ondina Santana, teve uma boa aceitação de público e de crítica. Havia espetáculo todas as noites, com duas sessões, às 20 e às 22 horas. A revista era de “Boa graça – Espírito fino – Grande montagem – Lindo guarda roupa”, com preços bem populares:
“Frisa......................................27$500
Camarote................................27$500
Poltrona....................................5$500
Balcão.......................................3$300
Galeria numerada........................2$200”.
“Aos sábados” – “Vesperal da primavera, às 16 horas, com farta distribuição de caramelos Busi”. “Preços reduzidos”, “Poltronas.....3$000 (incluindo o selo)”.
O folheto do espetáculo contém, ainda, os sonetos “Elas...”, de Luiz Leitão, que viria a ser plagiado e transformado em marchinha de Carnaval, em 1935, e “Ano Bom”, de N. Tangerini.
Muitos esquetes da peça se perderam, como já citei em crônica anterior a esta.
Vejamos, aqui, um dos quadros, com os nomes de personagens e intérpretes, publicado na revista de humor e sátira O Espeto, de 1947:
“Se ele apostasse: Dona da pensão, Nair Alves; Pensionista, Raul de Castro; Trabalhador, Afonso Stuart. Amor e medo: Pequena, Maria Isabel; Paulinho, Arnaldo Coutinho.
Abaixo, a “Opinião da Imprensa”, a respeito da Revista de “N. Tangerini e Luiz Leitão”:
JORNAL DO BRASIL:
“A estreia ontem no João Caetano, da Cia. Nacional de Revistas e Peças Musicadas admite felizes angúrios, bons prognósticos.
TUDO PELO BRASIL foi vasada nos moldes da revista moderna. Há humor e apuro de forma. Os números de fantasia bonitos, particularmente os 2 finais de atos. Bonitos e variados cenários, vistosos efeitos de luz e música acentuadamente brasileira”.
CORREIO DA MANHÃ:
“TUDO PELO BRASIL, revista que estreou no Teatro João Caetano, tem bonita montagem e música alegre e viva. TUDO PELO BRASIL está marcada com gosto, merecendo as melhores referências o final do 1º ato, de grande efeito”.
JORNAL DO COMMÉRCIO:
“... é um elenco variado, bem equilibrado. Os autores da revista TUDO PELO BRASIL, Srs. N. Tangerini e Luiz Leitão, ambos com larga experiência do gênero, fizeram agora obra bem melhor que de qualquer das outras vezes. Tudo se de-senvolve com felicidade por entre as risadas e os aplausos da sala”.
A NOITE:
“Aí está uma boa companhia de revista, com todos os elementos de vitória: a Companhia do João Caetano, com a revista TUDO PELO BRASIL. O que se pode exigir numa revista moderna, encontra-se na peça que vem de reabrir o elegante Teatro da Prefeitura. Montagem muito bem cuidada. Música agradável. “Sketches” espirituosos. A platéia do João Caetano estava repleta e o público dava mostras constantes de seu agrado. A iniciativa do João Caetano merece ser prestigiada pelo público. É realmente coisa boa e que vem de ser, ali, inaugurado”.
DIÁRIO DA NOITE:
“... o original TUDO PELO BRASIL foi uma estreia auspiciosa.
Dois bailarinos excêntricos muito aplaudidos. No corpo de “girls”, há lindos palminhos de cara, o que se impõe em revista. Cenários bonitos”.
A HORA:
“... porque TUDO PELO BRASIL é um espetáculo magnífico não só
para o espírito, como para as vistas. É uma peça que merece a atenção dos que apreciam o
bom Teatro e mui principalmente pelas famílias. TUDO PELO BRASIL está muito bem vestida, em seus cenários e guarda roupa, com música expressiva, incluindo sambas modernos.
Representação alinhada com justeza e disciplina. Merece especial destaque o corpo de girls. A parte cômica, bem defendida. Boas marcações feitas por João de Deus. O público deve ir assistir a TUDO PELO BRASIL”.
Pertence a esta revista, também, um esquete muito engraçado e que viria a ser plagiado por inúmeros [falsos] humoristas: um casal está na sala – ele, lendo jornal; ela, fazendo o seu bordado -, quando a sogra dele passa por uma porta que separa um dos cômodos e a sala, e, por pouco, não recebe com um relógio [cuco], até então pregado à parede, na sua cabeça. Assustada, com o ocorrido, a esposa diz ao esposo: “ – Querido, por muito pouco este relógio não acerta a cabeça de mamãe”, ao que o marido responde, meio indiferente, lendo o jornal: “ – Este relógio anda sempre atrasado”.
Enfim, resta-nos uma pergunta: Por que os nomes de Nestor Tangerini e Luiz Leitão nunca são lembrados, quando se trata de literatura ou de teatro de revista?