Tempo de Natal
Edson Gonçalves Ferreira
Datas parecem coisas bobas, pois não devia existir data definida para celebrar a vida e, tampouco, para se comemorar o nascimento de Cristo, o Rei dos Reis. Por outro lado, contudo, a existência de datas configura uma coisa maravilhosa que é o rito e, através do rito é que consagramos muitas coisas. Afinal, precisamos valorizar cada segundo que vivemos e, sobremaneira, os segundos que tivermos para conversar com outra pessoa, porque a vida é feita de momentos.
Quem leu “O Pequeno Príncipe”, de Saint-ex, conhece o trecho em que a raposa fala para o Príncipe que, se ele viesse às quatro horas, desde as três horas, ela começaria a ser feliz. Assim é que, quando nos preparamos para a celebração do Natal e do Ano Novo, fazemos o mesmo que a raposa. Enchemos a nossa vida de ritos.
O ser humano é muito curioso mesmo!... Existem pessoas que se consagram fazendo os outros mais felizes e outras, por motivos algures, andam por outros caminhos menos abençoados. Acreditamos mesmo que, se o ser humano nasceu foi para brilhar e não para morrer de fome – como já foi falado por outros grandes homens cujos nomes não nos lembramos, agora -- nós devemos formar uma grande corrente humana para promover a paz na Terra.
Segundo os estudiosos, o século XXI seria o século da espiritualidade e da paz e, vivendo este século, até então, observamos que ele ainda não tem essas características. Não estamos vivendo um tempo de paz, pois existem guerras por todos os lados. Basta observar as manchetes de jornais. Conflitos nas grandes e médias cidades, na Europa, na Ásia, na América do Sul e na América do Norte e a terrível distância econômica e massacrante entre as classes sociais.
Quando pensamos no nascimento de Cristo, fazendo uma releitura, podemos imaginar o seu nascimento em uma favela, no meio do fogo cruzado dos traficantes, sufocado pela elite selvagem do mundo atual e, até mesmo, debaixo de qualquer ponte e, também, relembramos a história dos meninos que vivem debaixo das pontes que, ironicamente, foram chamados por Jorge Amado de Capitães da Areia.
A realidade é dura, chocante. Mel Gibson não exagerou no seu filme que retratou a paixão de Cristo. Quando comemoramos o Natal, devemos repensar a nossa ação sócio-econômica e cultural e, se possível, lutar por um mundo mais tranqüilo onde, talvez, Jesus pudesse renascer num berço e não numa manjedoura. Afinal, Natal acontece todos os dias, porque Cristo renasce a cada momento e, na maioria das vezes, nem manjedoura tem.
* Artigo publicado no Jornal Agora, em Divinópolis e na revista Linteratura, em Divinópolis.