O dia em que ouvi passos na sala

Era um sábado, se bem me lembro. Estava eu em minha cama, deitado sem nenhuma pretensão de ter um dia diferente, quando ouvi passos vindos da minha sala. Moro sozinho, você deve imaginar o que se passou em minha cabeça quando ouvi passos que vinham da sala. Um fantasma, na melhor das hipóteses. Me vesti de coragem, empunhei meu sabre reluzente (um guarda-chuva), e me dirigi à sala para verificar o ocorrido. Antes que isso aqui tome ares de thriller, era de manhã, logo a possibilidade de fantasmas ou demônios caiam bastante. Pois bem, antes mesmo de chegar lá, reconheci que era a minha vizinha, que tinha entrado em minha casa sabe-se lá como. Andressa é uma mulher de muitos atributos, mas não atravessa portões de ferro, portanto lhe perguntei: "como conseguiu entrar aqui?". Ela respondeu que estava voltando para sua casa quando viu que meu portão não estava trancado e minha bicicleta estava caída aos pés da porta, preocupou-se de ter acontecido algo comigo e entrou para ver se estava tudo bem. Eu sorri, agradeci a gentileza, disse a ela que estava tudo bem, mas que eu só havia esquecido de trancar o portão naquela manhã e a bicicleta devia ter caído com vento. Mistérios resolvidos! Andressa e eu sempre nos demos bem, não éramos amigos íntimos, mas dialogávamos eventualmente. Aproveitei a visita inesperada para falar um pouco sobre animes com ela (um vício que temos em comum). Conversa vai, conversa vem, começou a pintar um clima de sedução entre nós. Não era a primeira vez que acontecia, só que dessa vez estávamos sós! O clima ia aumentando, sinais sutis se converteram em sinais inconfundíveis. Nesse momento encarnei o Doutor Estranho e comecei a visualizar milhões de finais para aquela manhã. A maioria deles bem felizes. O final que acabou se concretizando eu não havia previsto. O celular dela toca, era a sua mãe. Não sei bem o que falaram uma para a outra, mas em um momento Andressa disse: "ah, verdade! vá se arrumando que já estou saindo para te buscar". Pois é, acho que a mãe dela precisava de uma carona para algum lugar. Mercado? Médico? Não sei. Andressa saiu. Voltei a meu quarto, deitei em minha cheio de desesperança. Ainda era sábado de manhã, havia muito ócio pela frente. Dias depois fiquei sabendo que era uma carona para casa uma parente. Quem sabe um dia eu ouça passos novamente.

Tales Martins
Enviado por Tales Martins em 30/07/2019
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