E Foi Assim!
E Foi Assim!
Guel Brasil.
Um dia, num passado que já se vai bem distante, a vida abriu os umbrais de sua casa e pediu-me que entrasse. Era um portão enorme, aberto em duas bandas, e uma marca no chão indicava qual o caminho que eu deveria seguir. Fiquei atônito diante daquele esplendor, e embora menino ainda não recusei o convite. Deixei Painho, Mãinha, irmãos, amigos, peguei o ultimo trem que parava naquela estação e abracei as penúrias do mundo. Quando desci na estação de parada, vi que havia uma escada com um sem fim de degraus que parecia chegar a lugar nenhum! Nuvens, apenas nuvens era o que dava pra se ver no topo da escada. E lentamente comecei a dar meus primeiros passos naquele mundo tão estranho e cheio de percalços. Na mala de Eucatex marrom, quase nada; uma única troca de roupa, um velho cobertor e uma revista “Atalaia” escrita em Espanhol. A roupa surrada que eu estava vestido ainda tinha carrapicho. Fim de tarde, um nevoeiro que cobria tudo, e um frio terrível que fazia doer até os fios de cabelo. Minha ficha caiu! Eu estava no oco do mundo sem nenhum amparo para recomeçar a minha vida. Hoje, cinquenta anos depois vejo que tudo valeu a pena, e se pudesse voltar faria tudo de novo.