Politicagem cá entre nós.

Ontem no Reddit, naquela parte que é nossa, lia o povo todo ali discutir com paixão estas polêmicas questões da politicagem.

E aí comecei lembrar do meu avô Natalício Soriano Guedes. O vulgo véi Natal.

Véi Natal era sujeito bruto rústico sistemático, por todo diário arco do sol ele violentava-se com amor por entre os campos de café e cana, como conta a genealógica história, assim foi desde tenra idade até que a pele enrugasse e um detalhe; Depois da laboriosa epopeia, da dura batalha cujas armas enxada e foice, véi Natal arrojava-se no fresco chão da varanda e de um lado o pito de fumo que ele mesmo cultivara e curtira semanas antes, d'outro uma abarrotada garrafa de cachaça que ali secava antes de brilhar forte a lua. E assim repetiu-se décadas a fio.

Vó Maria, esposa de véi Natal, acompanhara fielmente tal odisséia ao longo de quatorze filhos, milhares de missas dominicais e dezenas de milhares de terços rezados. Jazem descansando ambos e os filhos todos firmes hoje já em avançada idade, netos já adultos e ninguém se perdeu do caminho em demasia, se o fez, retornou a retidão virtuosa sob a qual fora educado.

Pois é, nem Collor, nem Goulart, nem FHC, nem regime militar, PT, esquerda, direita, diagonal, nenhum desses nomes aí, cores, lados, propostas e despropostas, cessaram véi Natal de sua diária luta e dona Maria de seu sagrado terço. Nada disso aí impediu quatorze vidas feitas e suas derivações ao longo de duras décadas.

Entra um ladrão, sai um safado, sai um trambiqueiro, entra um ligeiro, sai um esperto, entra um gatuno, sai um gatuno e entra um chefão da maracutaia e o povo tá como?

Firme, forte e caminhante, como se tais questões fossem tão alheias e insignificantes de praxis e intelectualmente falando, que mesmo grau de diferença faria fosse a terra plana, redonda, triângular ou pentatônica; Se faltar sol e chuva e não brotar a semente; Aí complica. Mas nunca ouvi relato disso.

"-- Quem não se interessa por politicagem é dominado " - Diz o sujeito inteligente, mas é que em sua inteligência faltou-lhe saber da história de véi Natal e dona Maria, que entra ladrão sai ladrão, criaram quatorze filhos, ele de enxada e pinga, ela de fogão e terço.

Não pode haver político bom? Ah, de certo que sim, mas quem há de adivinhar qualé qual? Ora, votemos no que parece, por aquilo que dele pode-se conhecer, honesto e virtuoso, mas o diabo engana e só Deus sabe o que será...

Enfim, enquanto a politicagem rola lá, cá entre nós, segue o povo firme e forte.