ELA - III

Ela era mais feliz enquanto não sabia. Saber às vezes não é bom, dói demais. Ela acreditava que o mundo era bom. Que as pessoas eram boas. Ela vivia de suas fantasias, porque cresceu dentro de uma bolha, o que até certo ponto, era melhor. Ela era gentil, amável, carinhosa. Tinha seu modo de ver a vida, de acreditar nas pessoas, em suas relações. Ela era ela, sem medo e sem vergonha, até que um dia, lhe partiram o coração.

Perdeu o piso, perdeu o chão. Perdeu a graça, perdeu a poesia. Perdeu a pureza, perdeu sua ilusão. Quase, se perdeu...

- A ignorância às vezes é a melhor verdade! Dizia para si, como forma de aliviar a alma, mas, sabia que aquele pensamento era frágil. Independente do plano, não deveriam existir mentiras, manipulações, enganos e nem o silêncio, mas, naquela altura, aprendera que ouvir a verdade doía demais.

Cresceu em sua dor. Floresceu mulher. Despetalou a menina que havia em si. Tinha receios por onde colocava seus pés. Tinha cuidado com suas palavras. Tornou-se fiscal de si, por segurança, em relação aos outros, por isso, possuía um incômodo absurdo, que há um tempo lhe azucrinava o juízo, a ponto de quase lhe tirar a paz.

O mundo era grande demais e com ela pouco se importava. Era mais uma, entre tantas Elas, que subsistiam em meio a este caos. Sabia de sua força, do seu poder, da esperança de uma vida melhor. Por isso, recusava-se a calar, por mais que soubesse dos reveses, ela era também sua voz, não só a sua, mas, de todas Elas...

Que eram mais felizes enquanto não sabiam, pois saber, às vezes, dói demais. Que tiveram que saber que o mundo não é bom, nem as pessoas... Queriam (todas) voltar e viver de suas fantasias, mas, já era tarde. Ainda são gentis, amáveis e carinhosas. Possuem seus modos de ver a vida, de duvidar das pessoas, pois tiveram que crescer em sua dor e assim, florescer mulher, despetalar a menina que havia em si.

Fernanda A. Fernandes

17/07/2019