O que eu aprendi com Sandra Cavalcanti

O QUE EU APRENDI COM SANDRA CAVALCANTI
Miguel Carqueija

A Professora Sandra Cavalcanti é uma das melhores escritoras brasileiras que eu conheço, autora de vários livros: “Rio, viver ou morrer”, “Política nossa de cada dia”, “Ecologia e meio ambiente”. Durante muitos anos foi uma das melhores políticas de nosso país, com sua doutrina clara e justa, além de brilhante, suas posições firmes e éticas, cria que era de Carlos Lacerda, até hoje o melhor governador que nós tivemos no Rio de Janeiro (no caso, o estado da Guanabara, quando nosso Rio deixou de ser a capital e ficou sendo uma cidade-estado por três mandatos).
Sandra foi vereadora e deputada. Além de presidente do extinto Banco Nacional da Habitação (BNH) e, em 1982, candidatou-se ao governo estadual do Rio. Líder católica e conservadora, tinha tudo para vencer. Os outros candidatos eram Leonel Brizola, conhecido por seu radicalismo esquerdista (chamava Sandra, provocativamente, de “Dona Sandra”), Miro Teixeira, Moreira Franco e Lysâneas Maciel. Os católicos deviam naturalmente sufragar Sandra Cavalcanti.
O que aconteceu é que ela foi derrubada pelas pesquisas eleitorais. Inicialmente estava na frente e começou a cair. Foi aquele processo de dominós. Um dia saiu num dos nossos jornais, na manchete sobre a campanha eleitoral: “Sandra despenca”. Ora, isso é um crime. Aprendi naquela época o quanto as pesquisas são criminosas e manipulam o eleitorado, não prevendo mas provocando os resultados.
É um efeito psicológico e uma visão deformada do processo. É a praga do voto útil. “Ah, meu candidato caiu nas pesquisas, vou votar em outro, que possa vencer”. E isso só faz com que o candidato inicialmente escolhido caia ainda mais. Eu chamo a isso traição, e desconfio que a queda nas pesquisas possa ser proposital em muitos casos, porque derruba mesmo. Não derrubaria ninguém se todos pensassem como eu: escolho meu candidato pela minha consciência e haja o que houver, não o abandono a não ser que ele mesmo dê motivos. Por queda nas pesquisas nunca, é idiotice.
Voto útil é imoral. Fizeram a mesma coisa, três vezes seguidas, com a Marina Silva, nas eleições presidenciais. E três vezes seguidas votei nela e só nela, ou seja, no segundo turno anulei.
Incrível, até uma escritora católica e um padre, ambos meus amigos, mudaram seus votos de Sandra Cavalcanti para Moreira Franco, para evitar a vitória do indesejado Leonel Brizola. E foi bem feito que Brizola venceu. Aliás em época recente (o período Temer) Moreira foi até preso. Esse aí nunca me enganou. Como católico, jamais poderia votar nele. A minha única opção possível naquela eleição era Sandra Cavalcanti. Os outros quatro estavam fora de cogitação. Ou bem sou conservador, ou não sou.
Mas tempos depois Sandra deu uma declaração admirável, pois aceitou a vitória do Brizola. Ela disse mais ou menso isto: “Na democracia a coisa funciona assim: ganhou, tem que levar”.
Isso é justamente o que a turma do PT e linhas auxiliares não segue! Eles bem queriam um terceiro turno. A mentalidade petista parece funcionar assim: “Numa democracia a coisa funciona desse jeito: ganhou tem que levar, desde que seja o PT”. Não se conformaram com o resultado das urnas, que deu a vitória a Jair Bolsonaro com 57 milhões de votos, não respeitam a vontade do povo e as regras da democracia. É o que vemos a cada dia, desde o dia da eleição.
Vade retro!

Rio de Janeiro, 29 de julho de 2019.