E ASSIM, O JUMENTO FOI ELEITO (Uma parábola sobre a arrogância X a humildade)
Qualquer semelhança com a conjuntura brasileira
é mera jumentice (digo: coincidência).
Claudio Chaves
kafecomleit@hotmail.com
https://aforcadaideia.blogspot.com
facebook.com/Claudinho Chandelli
Diz a lenda:
o reino animal decidiu escolher seu líder.
Mais de uma dúzia de bichos se apresentou como candidatos, entre eles, o menos pretensioso de todos: o jumento.
Os mais inteligentes e bem preparados sabiam que qualquer um tinha chance, menos o azarão orelhudo.
Só por gozação, sabendo que já estava eleito – e para o jumento não correr o risco de ficar só com o próprio voto (se não errasse na hora) –, o leão votou no empacador. Movidos pelo mesmo sentimento (de desdenho), os demais candidatos e a maioria da bicharada eleitora fizeram o mesmo.
Resultado:
Isso mesmo: o empacador, orelhudo, lerdo e tapado jumento foi eleito o novo rei da floresta.
No Brasil – e provavelmente no resto do mundo –, há basicamente quatro tipos de eleitor: 1) o OPORTUNISTA/MANIPULADOR, 2) o INDIFERENTE/INGÊNUO, 3) o ALIENADO/INGÊNUO e 4) o CONSCIENTE/ALTRUÍSTA.
O OPORTUNISTA/MANIPULADOR não é maioria; mas é o mais consciente, mais bem preparado (intelectual, política e economicamente) e, por isso, o mais bem organizado, mais sistemático, mais influente e, consequentemente, o mais eficaz – a chamada elite (banqueiros e outros financistas, coronéis da mídia, multinacionais, empreiteiros, industriários, ONG’s do grande capital, políticos profissionais, com destaque para a sensação dessa classe no momento: a bancada evangélica e seu enorme rebanho eleitoral).
O INDIFERENTE/EGOCÊNTRICO é um grupo intermediário. Concentra uma grande mescla de leitores, incluindo muitos religiosos tradicionais (para quem tanto faz seis ou meia dúzia – o que importa é o vindouro Reino de Deus), profissionais liberais (não dependem diretamente do serviço público nem de emprego na iniciativa privada) e os desiludidos não só com a Política e os “políticos”, mas com praticamente toda forma de organização humana. Estes querem apenas está bem; como, não importa.
O ALIENADO/INGÊNUO também é bem misto, e é o maior de todos. Encontramos nesse grupo pessoas de todas as classes, credos, ideologias, naturalidades, profissões e idades. São aquelas pessoas que não são oportunistas-manipuladora nem indiferentes-egocênctricas, mas também não são conscientes-autruístas Os alienados-ingênuos são bem intencionados – não têm a ambição e maldade dos manipuladores nem o egocentrismo dos indiferentes, mas falta-lhes o principal: a capacitação, a argúcia, a malícia necessária para transitarem com êxito na Babel de interesses que é a Poítica.
O quartúltimo grupo, o dos CONSCIENTES-AUTRUÍSTAS, é, em termos de seletividade, um pouco semelhante ao primeiro (oportunista-manipulador). Nele estão muitos liberais clássicos e modernos e a grande maioria dos chamados intelectuais orgânicos (pensadores social-democratas e socialistas, lideranças católicas, artista, ambientalistas, grande parte dos universitários – os da classe média se abstêm – e movimentos sociais organizados; sindicatos, associações e organizações de minorias em geral).
A pergunta óbvia é: por que o grupo menor sempre leva vantagem sobre os demais?
Resumidamente, talvez Freud explica:
“As massas nunca tiveram sede de verdade. Elas querem ilusões e não vivem sem elas”.