“PODE ISSO, ARNALDO?!”

Como nos anos 1970, o Governo brasileiro pode sim censurar a Imprensa. Mas os efeitos serão os mesmos?!

Claudio Chaves

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A Imprensa formal (livre e independente) continua a ser requisito básico e um dos pilares principais da Democracia em qualquer sociedade. Mas estamos no século XXI. Apesar de fundamental, ela já não é mais o único – e nem o mais confiável para milhões de pessoas ao redor do Globo – meio de informação das massas. Aliás, estas raramente foram, de fato, informadas pela Imprensa formal – tanto por terem pouco acesso a tais meios quanto pelos interesses envolvidos tanto da parte de governantes quanto dos donos dos grandes veículos de comunicação.

A situação, hoje, é bem diferente. Vivemos a “sociedade líquida”, a era da informação pulverizada, das fontes acessíveis e sem fronteiras (nem públicas e nem privadas) e onde os grandes coronéis da mídia são cada vez menos donos da informação e do controle dos meios de transmissão desta.

Evidentemente – como em tudo que o ser humano engendra – há inúmeras e sérias controvérsias; mas “o martelo está batido e a ponta do prego virado”. Não há como retroceder.

Como fez com os meios de comunicação de massa, hoje convencionais, o Governo conseguirá controlar, manipular e censurar a poderosa internet e as bisbilhoteiras, irreverentes e indiscretas mídias sociais?!

Não é impossível, mas é bem mais complicado, principalmente quando o Governo – como atual – não mostra nenhuma cerimônia quanto ao seu interesse nesse sentido, no entanto, pretende manter a capa de Estado Democrático e de Direito.

E tem mais.

No Brasil, o principal impulsionador, entusiasta e beneficiário dessa rebeldia comunicativa, até aqui, é o próprio presidente da República. Não fosse seu total desprezo à Imprensa formal – se negando, inclusive, a participar de debates –, quase uma exigência legal para quem disputa o cargo que, hoje, ocupa – e, concomitantemente, o maciço investimento nesse novo fenômeno da comunicação mundial, dificilmente ele sequer teria passado do 1º turno das eleições.

E ele e seus apoiadores continuam extremamente empolgados com seu ovo de Colombo; parecem crer terem encontrado a 8ª maravilha do mundo contemporâneo. Mas correm o risco de se envenenarem com a própria peçonha.

“São informações criminosas (ou de criminosos)”, brada o ministro da Justiça sobre revelações de supostos diálogos seus feitos por órgãos de imprensa após terem acesso às mesmas através de fonte anônima.

Apenas duas considerações a respeito:

1) quem quer que tenha sido que obteve as informações que estão sendo divulgadas preferiu a Imprensa convencional formal para trazê-las a público. O que, no entanto, o(s) impediria(m) de publicá-las diretamente via redes sociais e aplicativos afins, como fez o presidente durante toda sua campanha e continua a fazer, colocando em segundo – ou até em último – plano os órgãos do Governo, incluindo o Diário Oficial? Talvez o estrago estivesse sendo até maior.

2) não será tão fácil para o atual Governo obter êxito em seu projeto de silenciar as massas – não é apenas dá um coice nos jornalistas e virar as costas, como tem feito costumeiramente o seu chefe maior. Primeiro porque, hoje, a comunicação de massa não depende mais dos coronéis da mídia formal convencional e, segundo, porque ao atentar contra esse modelo, o presidente estará atirando contra a própria cabeça, afinal, foi valendo-se dessas ferramentas que ele, contando com o apoio de gente esclarecida, mas interesseira e mesquinha, incutiu na cabeça de milhões de ignorantes fanáticos verdades absolutas e perigosas como a distribuição de kits gay e mamadeiras eróticas em escolas e que o Brasil vivia uma ditadura satânica e era governado pelo mais comunista de todos os partidos do mundo, o PT, que, aqui, fizera brotar algo inédito e nunca visto nestas terras: uma coisa chamada corrupção política.

“Porém”, profetizava o Messias, “tudo isso será sepultado de vez e para sempre. Basta que elejamos um presidente patriota, que tenha Deus no coração, deixe pra trás o comunismo, sepulte o Foro de São Paulo e governe com o mundo todo sem viés ideológico”.

É claro que grande parte dos seus apoiadores – ou que se apoiavam nele pra se vingarem de desafetos ou espantar suas frustrações –, nem de longe, acreditavam nessas sandices; mas a conveniência e o pensamento mesquinho falaram mais alto.

Resta ver se vão continuar dormindo tranquilo com esses clics, digo: barulho.