Publicações anteriores desta série: (pesquise pelo nome do autor)
  Crônicas de Brandão - Introdução
  Crônicas de Brandão - 1) O Mico da Lanchonete
  Crônicas de Brandão - 2) O Brado Retumbante
  Crônicas de Brandâo - 3) A Gincana da Torta de Maçã
  Crônicas de Brandão - 4) RRRaii RRRoberrrt!!!
  Crônicas de Brandão - 5) Putz...Melou!!
  Crônicas de Brandão - 6) Perseguindo a Polícia
  Crônicas de Brandão - 7) Acabou em Pizza! 
  Crônicas de Brandão - 8) Louça Suja se Lava em Casa!
  Crônicas de Brandão - 9) A Velhinha de Taubaté
  Crônicas de Brandão - 10) Matusa... para os Íntimos!!
  Crônicas de Brandão - 11) Rainbow...
  Crônicas de Brandão - 12) "Pois eu d'rei q'não!"
  Crônicas de Brandão - 13) Um dia de Fúria!
  Crônicas de Brandão - 14) Um Vilão Impostor


Crônicas de Brandão

15 – In-segurança de Condomínio
 
       
       Entre 1997 e 2002, morei em um condomínio situado em um município da Grande São Paulo, muito bem protegido contra intrusos, principalmente pelo rigor com que as admissões são controladas pelo policiamento local. Ainda hoje tenho amigos que moram lá. Quando os visito, não consigo deixar de me irritar com o excesso de formalidades impostas aos visitantes, para benefício e tranquilidade dos moradores.

       Durante o período em que eu morei no condomínio, Brandão me visitou diversas vezes. Em todas elas, eu acompanhava seu percurso, por telefone, desde Brasília até sua chegada.  Fazia isso pelo cuidado que tínhamos com ele em uma viagem tão longa, mas também para poder avisar a portaria do condomínio, com antecedência, de forma a minimizar o tempo gasto com os procedimentos formais para a autorização de entrada.

       A frequência das visitas de Brandão era menor que a da substituição dos seguranças contratados por terceirização, o que não permitia que ele fosse reconhecido pelos guardas de plantão. Seu carro também nunca tinha registro na portaria, devido à frequência com que Brandão os substituía.

       Mas, as características da retórica e a capacidade de envolver pessoas que Brandão possuía garantiam a ele um enorme poder de persuasão. Ele mesclava com naturalidade em suas assertivas, simpatia com perseverança; lógica com exortação; respeito com convicção. Conseguia coisas impossíveis para qualquer outra pessoa que tentasse.

       Já tinha meses que Brandão não nos visitava e não havia expectativa que o fizesse num futuro próximo. Era um fim de tarde de um sábado ensolarado de verão. Estávamos, minha mulher e eu, sentados à varanda, apreciando a natureza que se mostrava linda a partir do ponto elevado em que nossa casa se localizava no condomínio. De repente o ronco do motor de um carro se aproximando nos chamou a atenção. Em seguida, um carro desconhecido manobrou bruscamente em direção à rampa de acesso à nossa garagem. Atrás dele um carro da segurança do condomínio freou abruptamente e parou enviesado no meio da rua, em frente à rampa.

       Quando o primeiro carro parou no topo da rampa, o guarda já tinha saído da viatura e acenava para nós, aflito. Aí, Bradão e sua fleuma, após desligar o motor e certificar-se de que tudo estava em ordem no cockpit de seu carro novo, saiu sem pressa do automóvel, sorrindo. Quando viu que eu já havia indicado ao segurança que estava tudo certo, agradeceu ao guarda, que logo partiu em retorno à sua base. Então, Brandão virou-se para nós, displicente:

       - Esse cara me deu um trabalho! Quase estragou a surpresa...

       Os argumentos contundentes e convincentes que permitiram a ele obter a permissão dos guardas da portaria para sua entrada no condomínio, mediante escolta - um desconhecido, sem cadastro e sem comunicar sua presença ao condômino visitado - foi tema de uma longa história contada por Brandão durante a visita, com sua retórica encantadora, e recheada de gargalhadas!