Nikita, minha gatinha

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Nikita é uma gata solitária, prisioneira no nono andar. Sua vida é da caixa de areia para os seus poleiros, onde se lambe e observa moscas e sons de gente com uma concentração de invejar um estudioso.

Mensalmente, caminha pela casa miando lamentos. Mas, sem obter sucesso, aciona seus poderes felinos e retorna aos seus vários poleiros, com pulinhos mais atléticos do que os de uma ginasta, sem nenhuma depressão ou revolta que exija um veterinário. Às vezes, uma caixa, uma simples bolinha de papel ou um pedacinho de barbante são o suficiente para que ela preencha o seu dia. Enquanto nos descabelamos por qualquer obstáculo, lá está ela se exibindo, mordendo sua bolinha de papel em todas as posições, como se a vida fosse perfeita e o chão do apartamento fosse feito de relva.

Gosto muito de olhar para ela porque ela é um bichinho inspirador. E, além de passar uma ideia agradável de maciez, é uma terapeuta ocupacional nata. Só de observar o que ela faz com o seu tempo e como é o seu contentamento em um quadrado, eu posso desconfiar o que seja viver.