Não faz a menor diferença
Quem já leu minha crônica "O maior erro da minha vida", com certeza sabe que meu primeiro namorado era evangélico e criado dentro de uma igreja. Estou falando disto porque, quando alguém vem me dizer que devo procurar namorado na igreja e eu falo sobre ele, logo vem com a desculpa: "Ah, mas isso é porque ele não era um verdadeiro homem de Deus, não era um evangélico de fato." Engraçado que muitos ateus são melhores maridos ou namorados do que ele, não? Por que quero mencionar este fato? Porque sinto vontade de refletir sobre os que comentam meus textos acerca de religião e dizem que há ateus arrogantes e fanáticos, especialmente quando critico a arrogância de religiosos que se acham sabedores de tudo e logo vão dando explicações superficiais acerca da vida e dos sofrimentos que passamos por ela em vez de analisar. Também tenho vontade de falar sobre as pessoas que usam a desculpa de que um religioso(de qualquer credo) é mau-caráter porque não é uma pessoa "de Deus".
Vamos ser realistas. Se acreditar em Deus realmente influísse no caráter de alguém, todas as pessoas religiosas seriam automaticamente boas e as que duvidam ou não creem na existência de Deus seriam más e insensíveis. E a realidade mostra o quê? Que tanto há ateus quanto religiosos de bom caráter. Caso alguém diga que há ateus de mau caráter e arrogantes, eu não vou negar. Não digo que não existem ateus e agnósticos sem ética e valores morais, porque eles existem sim.
Há ateus e religiosos arrogantes sim, mas isso não é problema da crença ou falta dela. É questão da personalidade individual de cada pessoa. O que podemos ver é que muda apenas o discurso. O crente arrogante usará o discurso religioso, dizendo verdades como se Deus lhe mandasse mensagens por celular. O ateu arrogante se baseará no argumento de que é intelectualmente superior e racional, tendo superado todas as crenças religiosas.
Muitas das piores pessoas que conheço vivem na igreja. E são pessoas inconvenientes, intrometidas, que pensam que sabem tudo. Algumas delas vivem rezando e, quando saem da igreja ou param de orar, começam a praguejar, olhar para a roupa de tal pessoa, falar mal de fulano ou sicrano, dizer que aquela pessoa um dia irá pagar. Há um senhor que torturou a família toda sua vida e hoje, que está velho, vive rezando e diz à filha (que sempre foi uma de suas maiores vítimas) que ela tem um karma horrível e ainda terá de passar por trinta reencarnações para pagar todo o mal que fez, que ele a aguenta para expiar e que um dia ela pagará por não ver que ele só quer fazer o bem. Vejamos como ele é santo. Ele vive diminuindo a moça, dizendo que ela é lenta, precisa da ajuda dele até para enxugar os pratos, é limitada intelectualmente e joga na cara dela até quando faz algo como comprar umas mangas, fazendo questão de dizer quanto gastou para comprar. Uma pessoa dessas é generosa? Uma tia dessa moça até perguntou: o que você fará se, ao chegar ao Paraíso, encontrar seu pai? A moça respondeu: pegarei um tobogã para o inferno. Que dizer?
Um religioso arrogante acha que está salvo porque vive rezando e que, na prática, é uma pessoa venenosa e insuportável, só nos mostra que crença ou descrença em Deus não é o fator mais importante para determinar o caráter de alguém. Infelizmente, damos demasiado valor a quem é religioso e temos preconceitos contra quem não acredita. Ateus e agnósticos sofrem até para encontrar trabalho e são vistos com desconfiança. Deveríamos olhar os atos de uma pessoa, não aquilo em que ela acredita ou não.