“UMA COISA NÃO ‘DISCOISA’ OUTRA COISA”
Claudio Chaves
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A confirmação (se, de fato, for) de que a obtenção das informações dos celulares de Moro e seus colegas foi criminosa não torna inverídica (se forem verídicas) a existência do que elas revelam, nem criminaliza quem as divulgou; muito pelo contrário, além de reforçar as evidências de autenticidade – jamais totalmente refutada pelas vítimas da invasão –, das informações, explicita mais ainda a necessidade de que tais informações sejam conhecidas por todo o público, como, aliás, sempre defenderam Moro e Dallagnol quando as vítimas eram outras.
O ministro da Justiça se sente mesmo inatingível ou acredita que, assim como disse ter feito com o aplicativo de seu celular um ano antes de muitas das conversas reveladas terem acontecido, a capacidade cognitiva do povo brasileiro foi deletada.
“São informações de criminosos”, alega o ministro, insinuando que a veracidade de informações depende de sua fonte; justo ele que julgou e condenou dezenas de réus (e sempre invoca isso em defesa própria) exatamente a partir de informações dadas por criminosos confessos – ou os delatores da lava jato, de quem ele obteve informações depois de prendê-los, estavam lá na cadeia por estarem cansados da vida livre e fagueira que levavam aqui fora?!
É claro que uma coisa não invalida a outra.
O que Moro – e todas as autoridades brasileiras (juntamente com a sociedade geral), a começar pelas que aprimoraram a legislação, aparelharam os órgãos de controle e investigação e lhes deram independência e autonomia – fez em favor do combate ao crime de colarinho branco e pela moralização da gestão público no Brasil neste curto período, a partir da lava jato, sejamos minimamente coerentes, é inegável, imprescindível e inapagável.
Exatamente por isso, deveria partir dele próprio e do governo que ele integra – e a serviço do qual, ao que indicam os últimos acontecimentos, já atuava quando juiz – a determinação clara e inamovível de não permitir que esse processo, que sempre teve o apoio até de muitos dos condenados nele, seja interrompido e, pior, com um escândalo tão grande quanto ou maior do que o que motivara sua iniciação.
Seria, sem sombra de dúvidas, uma demonstração de grandeza e uma honra ímpar a todos os envolvidos diretamente e, por extensão, a todo o povo brasileiro.
Mas o ministro, assim como seu chefe maior (e a parcela da população que apoia seus atos, independentemente da legalidade ou legitimidade destes), parece está convencido de que o tamanho da dignidade de um homem não é medido pela forma como se levanta de eventuais tropeções, mas por permanecer de pé, não importando que os meios que assim o mantenham sejam tão escusos quanto ou mais que aqueles que lhe deram motivos para levar tantos ao chão.