A rosa
Eu queria ser um girassol. É engraçado quando eu penso, por que eu ouvi certo dia uma garota dizer que girassóis são sem graça. Mas eu não gosto de ter espinhos. As pessoas dizem que eu sou tão bonita, elas passam por mim e se encantam com meu cheiro. Quem não gosta de rosas? Que flor não gostaria de ser uma rosa?
Eu gostaria de dizer que estão enganados. Eu me sinto tão sozinha... Eu não devo me juntar às outras rosas, por que nos machucaríamos... Nem às outras flores, por que eu as machucaria. Eu estava pensando nisso quando eu vi uma garota chorar hoje. Eu me estiquei, por que eu pensei que talvez o meu cheiro a alegrasse. Acho que ela sentiu minha comoção, por que ela se sentou perto do meu roseiral, dividindo a sombra comigo. Tão perto de mim... Eu olhei para ela, por que eu podia sentir sua dor. Tão sozinha quanto eu... As pessoas passavam perto dela e a ignoravam, como você ignora uma mulher chorar?
O vento bateu e eu me estiquei mais, conforme ele passava. Eu toquei seu ombro e ela olhou para mim. Ela parou de chorar e eu me senti um pouco feliz, abençoada por que fui eu a distração da sua dor. Eu me apaixonei... Eu fiquei encantada por aquele rostinho rosado e inchado, molhado ainda, eu sofri ao vê-lo ainda molhado. Ela era tão mais linda do que uma flor, eu me senti numa existência inútil, pois aquele era o meu propósito, mas não foi isso que me fez triste. Eu lamentei tanto, pois agora mais do que nunca eu queria ser aquele girassol para apontá-la onde estava a luz do sol.
Ela me tocou, passou quase um segundo sem soluçar. Seu toque era tão delicado e assustado. Ela partiu meu caule gentilmente ao me puxar e mesmo doendo, eu continuei esperançosa. Nada doía mais que a solidão daquele roseiral e eu estava disposta a arriscar. Dessa vez iria ser diferente.
Mas quando eu pensei que eu não estava mais sozinha e nem ela, ela abriu sua mão bruscamente, e seu rosto se assustou. Outra lágrima começou a se formar. Uma gota de sangue escorreu pelo meu espinho. Eu sabia que o sangue não era meu, não poderia ser. Mas eu senti como se fosse... Eu estava caída no chão. Ela colocou as duas mãos sobre o rosto e se encolheu de novo sussurrando baixinho entre os soluços e o choro: "Tudo que eu amo me machuca"