TRAGÉDIAS QUE SE REPETEM
Ysolda Cabral 



Ontem senti a cidade parada, meio deserta... Vendo a chuva cair no asfalto, sorria ao perceber que ela fazia trampolim do teto do meu carro. Fiquei a imaginar por onde andava todo mundo...

Nas copas das árvores alguns pássaros se arriscavam ao balanço dos Ventos vindos talvez de Candeias, ou de outras plagas mais distantes e desconhecidas...

– Onde estava todo mundo? Perguntava-me a todo instante. E, aquela mulher linda e grávida que vi passar na avenida outro dia, onde estaria ela? Tudo em tons de cinza... Senti a Vida de forma intensa a correr por minhas veias, me guiando pelo caminho que deveria seguir.

Com cautela fui avançando sobre o magnífico espelho d’água que se estendia à minha frente, creio que sem pensar em nada, apenas sentindo a força da Natureza, sem muita pressa de chegar...

A beleza e a suavidade pairavam ao meu redor e um friozinho aconchegante e tentador insistia para que eu voltasse para casa onde eu teria um merecido descanso, uma comidinha quentinha em minha companhia. Mandei que parasse com aquilo. Eu precisava ir trabalhar. E o dia passou para mim de forma tranquila e repousante. - Já para outros...

O terror da morte... Entre ela, a linda mulher grávida de oito meses que foi encontrada soterrada por uma barreira... - Que tristeza!

Hoje, o Sol inocente paira alegre sobre nós, com seus lindos raios de luz, que não secam as lágrimas daqueles que perderam seus entes queridos e que, neste momento, providenciam os seus sepultamentos em covas rasas...

E a Vida continua como se nada tivesse acontecido...

Triste de mim que, com tantas notícias tristes, - as mesmas de todos os anos -, perdi a Poesia.


 
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Apenas Ysolda
Uma pessoa que chora e ri de alegria,
tristeza , ou saudade sem pudor.

www.ysoldacabral.blogspot.com/

 
Em tempo: Obrigada minha amada filha, Yauanna Cavalcanti, pela bela foto, do nosso caminho de todo dia, tirada hoje cedinho, no trajeto casa/trabalho,  quando a cidade ainda dormia, para ilustrar  esta crônica.