Encanta-me pensar que você existe

Encanta-me pensar e sentir que você existe... Hoje à noitinha, enquanto esperava a Lua, a crônica vestiu-se de poesia e da janela entreaberta do meu coração, deixou as imagens, aromas e emoções fluírem; abraçou, demoradamente, algumas lembranças relembrou o primeiro encontro, as doces trocas de olhares, as carícias os beijos... e as despedidas.

Cada momento de Amor faz parte desse inebriante sentir especial, tão único, tão nosso, uma sintonia emoldurada por letras, ponto e vírgula, reticências e gotinhas de tintas.

A Vida é bela, mas muito, muito frágil, às vezes, sinto esse flutuar da alma, como se ela baila-se em um espelho e dele - Universo Paralelo - não tivesse forças para sair. E assim a cada segundo há um distanciamento da Vida, mosaicos, de quase tudo que amo: sinto o vento mover e levar as folhas do plátano, gatos, minhas telas, pincéis, poemas, piano, livros, fotografias, e até o Verdinho, o louva- a - deus, sendo levados com a leveza de papéis de seda, bolhas de sabão, e ainda a aquele voo lindo que emociona, contido, no mover das diáfanas asas da joaninha.

Se me perguntassem quanta felicidade caberia numa xícara ou em uma folha em branco? Eu responderia que não sei, o que sei é que já admirei traços do pôr do sol se acomodarem no chá deixado na xícara de porcelana e quanto à folha em branco, gosto de fechar os olhos e percorrê-la, acariciando cada centímetro, da sua textura - papel Canson - imaginando o mesclar das cores, o desaguar da aquarela ou do nanquim.

Na fragilidade da Vida o Amor permanece, enquanto e a Saudade tece com cumplicidade a pausa no tempo do último beijo, com fios cintilantes que emprestou da tela: "A Rendeira" de Vermeer. E enfim, a vida prossegue, derretendo relógios e transformando o cristal em gotas, que substituem a areia da ampulheta.

Repleta de poesia a crônica anoitece e despede-se, transmutando a dor em versos e adormece entre as pérolas do meu colar, no silenciar das perguntas à espera das respostas.

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"Uma das razões por que escrevemos: declarar o nosso amor."

Katherine Mansfield