"Nem Prá Direita; Nem Prá Esquerda..."

Hoje pela manhã, enquanto alguns amigos meus se derretiam no seu sagrado frescobol dos finais de semana naquela gostosa areia do Posto Seis eu, recostado no calçadão, ficava na torcida saboreando a minha terceira ou quarta 'sagrada geladinha'. Foi quando surgiu no calçadão a figura impoluta de um dos meus melhores amigos e também daquela galera; o nosso velho "marechal". Ele é uma figuraça; um sujeito muito sábio e um tipo de pessoa capaz de cativar qualquer um em apenas alguns minutos de prosa. Estávamos todos com saudades dele, pois já fazia quase dois meses que ele estava 'fora do circuito' como costuma de dizer; tinha viajado para o Canadá e Austrália, em visita que anualmente faz aos filhos e netos que moram lá.

E foi quando ainda estávamos em meio àqueles efusivos, fraternais e carinhosos abraços que ele, antes mesmo de começar a nos contar as novidades da sua viagem, perguntou à galera se por acaso havia alguma verdade em tudo aquilo que a mídia estava comentando a respeito do nosso 'mito'... Quando ele fez essa pergunta foi aquela confusão, porque todos queriam falar ao mesmo tempo. Os bolsoninos 'metendo o pau' nos 'esquerdopatas', enquanto estes esbravejavam contra o 'mito' e seus 'súditos'... Quem estivesse passando ali pelo calçadão naquele momento até poderia pensar que estava se iniciando uma briga entre aquela galera.

E foi então que, com aquela calma que lhe é peculiar, ele disse:

-Muita calma nessa hora rapaziada; sem tumulto. Eu faço questão de ouvir os pontos-de-vista dos dois lados; depois eu tiro a minha conclusão.

Só que aquela idéia dele parecia que não ia dar certo, porque àquela altura do campeonato, quase todos vociferavam ao mesmo tempo.

E mais uma vez, pedindo calma, ele disse:

-Aí galera, vamos fazer o seguinte; eu escolho um representante da direita e um da esquerda para falar pelos demais, ok? E todos nós concordamos.

Fizemos uma 'rodinha' onde, no centro, ficariam os dois escolhidos; o Carlinhos, mais conhecido como 'mestre', que representaria a direita e o Celsinho Poeta, representaria a esquerda. E foi bem ali, bem na areia junto ao calçadão que, naquela linda e ensolarada manhã de inverno que, durante quase uma hora teve lugar um inflamado debate, jamais imaginado que pudesse acontecer entre amigos de longa data. Haviam momentos de muita tensão e outros tão hilários e tão cômicas que pareciam até cenas de uma chanchada...

Quase todo mundo se envolveu naquela discussão que parecia não ter fim... Eu fui um dos poucos que preferiu não opinar; foi a melhor coisa que fiz, porque haviam certos momentos que a coisa 'esquentava'...

Depois de um certo tempo, quando a discussão amainou um pouco, o marechal tomou a palavra e disse:

-Gente, pode parar a discussão que eu já tirei a minha conclusão... E a que conclusão chegou, marechal? Perguntou o Natan; o 'Naval'. E ele respondeu:

-Cheguei à conclusão que nem a direita, nem a esquerda estão com a razão... Os dois lados estão completamente errados nas suas atitudes diante do fato em questão. Ficamos todos boquiabertos; sem entender coisíssima nenhuma... Para que então serviu toda aquela discussão; todo aquele bate-boca? Certamente foi isso que a maioria de nós pensamos depois daquela resposta dele.

E foi então que eu, que até então não havia sequer aberto a minha boca -a não ser para saborear a minha gelada- perguntei:

-Como assim, amigão? Quer dizer que a galera aqui quase que 'saiu no pau' por sua causa; à toa? E ele, abrindo aquele seu largo e gostoso sorriso, disse:

-Não... Não foi à toa não, meu caro. Essa discussão toda de vocês, só serviu para mostrar a vocês e para confirmar a mim, aquilo que eu já sabia e que agora penso que todos vocês vão também finalmente vão tomar consciência; Não só vocês, mas todos que agem assim, da forma com que vocês agiram nessa quase uma hora de discussão, só estão é perdendo o seu tempo com essas discussões idiotas e intermináveis a respeito de um fato que já está consumado; a eleição já acabou faz tempo e o homem foi legítimamente colocado lá onde está, no cume do poder... Agora não adianta mais chorar nem espernear, porque é nas mãos dele que está o destino de todos nós... Portanto, o que nos resta fazer é nos unirmos todos e torcer muito a favor dele, para que ele governe com sabedoria e justiça porque, se torcemos contra e ele afunda, afundamos também todos nós; é assim que funciona! E tenho dito!

Logo assim que ele acabou de dizer essas sábias palavras, recebeu uma tão calorosa salva de palmas que chegou até a chamar a atenção das pessoas que por ali passavam naquele momento.

Realmente foi uma bela lição que nosso velho marechal nos deu: "Nem pra direita, nem pra esquerda; o povo brasileiro é que deve ser o centro das atenções do nosso 'Mito' ".