O Amor e a Dor

Hoje, foi um dia diferente. Passando pela estrada da vida, vi a dor da perda desabar sobre alma daqueles que amam. Vi ali o poder da morte, morte capaz de unir, mesmo quando separa, capaz de transpassar barreiras, religiosas, ou mesmo ideológicas. E quando a dor triturava a alma daqueles que se despediam, o amor saltou na boca do artista, que aos berros, dava forma, som e brilho aquilo que chamamos de afeto, sim, o amor empoderou-se, e travava-se agora de uma intensa batalha, na qual, quanto mais a dor doía, mais o amor empoderava-se, cantava, saltava de sobre o violão pongando nas mãos do tocador e dizendo... "a rosa vermelha é meu bem querer.... É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã...Olha pro céu meu amor, ver como ele está lindo, olha pra quele balão que voou...", a dor parecendo ainda não se dar conta que era muito menor do que o amor que ali emanava, relutava; mas nessa altura o amor já dançava e cantava, cirandando por muitas mãos, mãos enlaçadas no afeto "Essa ciranda quem me deu foi Lia....Eu fui à praia do Janga, pra ver a ciranda, no meu cirandar...", neste ponto, a dor que outrora imponente esmagava, agora se arrastava desvalida, vencida.

O céu, como querendo fazer parte da ciranda, caia sobre os cirandeiros em forma de um frio e suave orvalho, mas desconfio que não era orvalho, devia ser amor em sua forma líquida que vinha mistura-se com as palavras dos olhos, daqueles que cirandavam. Esse amor em líquido, terminou por diluir a dor, e enquanto seguia o cortejo da despedida, agora em silêncio de paz, arquivava-se as memorias, as lembranças, e as saudades.