Seguir com a Vida...
Perdi meu pai há apenas 2 anos.
Foi eu um mês de agosto de 2017 que ele, ao fazer uma tomografia, entrou em colapso e foi dali para a UTI somente saindo para uma vaga aberta no cemitério.
Na última vez em que conversamos ele estava afirmando que sentia que morreria. Desprezei, como sempre, mais essa afirmativa dizendo-lhe:
- A sua cara está muito boa!
Titubeante, levantou-se da mesa da cozinha aonde estava e fomos para a sala.
Conversamos sobre muitas coisas, principalmente, política.
Em um momento, observei-o sentado a uma poltrona e minha mãe em uma cadeira.
Bateu-me a forte sensação de que os estava vendo juntos pela última vez e assim se deu.
A diabetes venceu.
Foram 14 dias de UTI e, no 8o. dia, quando senti sua barriga dura como pedra ao toque e seus dedos amarelos de morte soube que já não estava entre nós, mas pendurado naquela ponte entre os dois mundos.
Dali em diante foi o correr das horas.
Recebi a sua notícia de morte quando em viagem a trabalho da forma mais frígida: por uma tia chorando em um grupo da família no WhatsApp.
Corri para casa e não sei se chorei. Estava seco demais por dentro para verter lágrimas.
O velório contou com vários amigos e parentes queridos enquanto eu entrei no modo social automático. Sem sentimento, sem pensamento, apenas despejando a cortesia que minha programação existencial permitia.
Durante a noite vendo seu corpo esfriar ante o silêncio da sala de velório bateu-me a certeza de que o seu tempo, enfim, terminara de contar. Apoie minhas mãos sobre as suas e desejei boa viagem. Naquele momento senti que partira, de fato, algo de dentro dele e me veio o alívio da despedida final.
A ficha somente caiu dias depois.
Após sua ida para a cova e a libertação da sua alma somente restou para nossa família seguir com a vida...