GOSTAR DE LER:UM LONGO CAMINHO

Nasci em um sítio bem longe do centro da cidade. A família cultivava hortaliça.

E levava nas feiras para comercializar ou num ponto de venda numa rua movimentada e oferecia aos transeuntes. Esse serviço ficava geralmente a meu cargo. Tinha na época uns doze anos.

De todos os irmãos era o mais franzino e mais baixo em estatura.

Certo dia, meu pai me alertou que no campo não teria vez em face da condição física. O melhor seria ir para a cidade e estudar bastante.

E conseguiu colocação num casa comercial da cidade próxima. Dormia lá, alimentava. Não havia domingo ou feriado. Após o jantar, ficamos até altas horas da noite repondo mercadorias nas prateleiras. Ou lavando garrafas recicláveis de guaraná, cerveja. Com o caminhão da firma, uma vez por semana ia buscar as bebidas. Não era como agora que os próprios fabricantes vêm entregar o produto. E no fim do mês ganhávamos alguns trocados.

Tive a melhor escola. Os colegas do trabalho me adotaram. Faziam com que estudasse matemática, lesse tudo o que caísse nas mãos e melhorasse a caligrafia.

Assim que fundaram uma escola noturna me obrigaram a frequentá-la.

Os professores efetivos do Estado, lecionavam à noite só para colaborar. A remuneração era apenas simbólica.

E, assim, foi. Fiz cursei três faculdades, sendo uma da UNESP.

E o vício que sempre me acompanhou e me acompanha ainda é adquirir livros.

Uma coisa que sempre pondero: onde estaria se o meu pai não tivesse adotado aquela atitude? Mas a atitude dele nos afastou para sempre. Mal o visitava mesmo sendo já adulto. Quando ele se foi, senti-me órfão outra vez: estava perdendo o pai pela segunda vez.

Yoshikuni
Enviado por Yoshikuni em 18/07/2019
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