ELA - II

Ela vestiu sua melhor roupa, pintou sua cara, passou um batom vermelho, calçou um salto alto e foi tentar ser feliz. Sabia que tudo aquilo era montagem. Mas, não importava! Ela era bonita, pintada ou de cara lavada. Não tinha vergonha de suas marcas e cicatrizes, havia beleza em suas sardas, em seu tom. Seu corpo era seu recipiente e não importava estar feliz ou descontente, era com ele que ia para o batente tentar se impor.

- Lhe disseram graça. Falaram de suas formas. Do seu descompasso, do seu corpo, de sua cor. Lhe julgaram feia ou exagerada, como se existisse parâmetro para seu compor.

Ela chegou a ficar toda sem jeito, a se recolher e pensou:

- Há algo de errado comigo, o que posso fazer?!

Mexeu com seus olhos, como se enxergava. Mexeu com seu ego, como sua garra. Do espelho se escondia, não podia se ver. Como pôde palavras, consigo, aquilo fazer.

Ela não vestiu sua melhor roupa, não pintou sua cara, nem passou seu batom. Não calçou seu salto alto, mas, foi tentar ser feliz. Ela era bonita, pintada ou de cara lavada. Sabia que tudo aquilo era montagem, mas, começou a ter vergonha de suas marcas e cicatrizes, das suas formas, do seu tom.

Noutro dia, contudo, em outra esquina, na outra rua, na cadeira ao lado, no ônibus, na multidão... Ela encontrou Marta, Maria, Joana, Érica, Patrícia, Camila, Daniela, Amanda, Conceição... Com seus melhores vestidos, ou não, com a cara pintada ou não, calçadas com saltos altos ou sapatos baixos e viu o quanto eram bonitas em suas formas, seus contornos, em seus tons. Viu beleza em suas marcas, em suas cicatrizes, não importava como eram, não havia padrão. Havia beleza em ser exatamente como eram, não importava o que lhes diziam, eram mulheres fortes, maduras ou meninas, eram belas, no composto de sua natureza, eram Elas, mulheres, diferentes, guerreiras.

Ela então vestiu sua melhor roupa, pintou sua cara, passou um batom vermelho, calçou um salto alto e FOI ser feliz. Sabia que tudo aquilo era montagem. Mas, não importava! Ela era bonita, pintada ou de cara lavada. Não tinha vergonha de suas marcas e cicatrizes, havia beleza em suas sardas, em seu tom. Seu corpo era seu recipiente e não importava estar feliz ou descontente, era com ele que ia para o batente da vida se IMPOR.

Fernanda A. Fernandes

15/07/2019

Fernanda A Fernandes
Enviado por Fernanda A Fernandes em 17/07/2019
Reeditado em 19/07/2019
Código do texto: T6697876
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.