- Dançar com a veia cava? Cava mesmo, a sua sepultura. Paciência... Se tivesse força, eu mesma anteciparia. Todo dia a mesma coisa. Mari ligava a tv pela manhã e surra de notícias. Os programas que mais gostava eram sobre saúde e gastronomia. Era aversa às tecnologias, então seu hobby era cuidar da saúde e como em “casa de ferreiro o espeto é de pau”, seu marido era o Karma. A ascensão das formações científicas em nutrição criaram uma reviravolta nos conceitos alimentares. O porco, antes comercializado em arrobas, fazia a alegria da família sendo a carne e a gordura utilizada para cozinhar, hoje é o vilão. O açúcar: veneno. “Herbavida” é refeição completa, mas o “agro” pra ser pop é tóxico (agrotóxico). Uma incoerência desordenada que confunde o cidadão comum. Mari, ficava eufórica com todo aquele aparato de informações, anotava num caderno e nem percebia que vivia tropeçando nas próprias falas: - Lembra que o açúcar é o mascavo. Depois: Vamos usar “steveaí”. - Óleo de coco para cozinhar. Depois: só óleo de canola. Cada notícia uma nova ordem até que, na última sexta-feira, soltou: - Vamos cortar o glúten e proteína animal. Beta HCJ na veia. O marido carnívoro por natureza resmungou: - Peraí, corte o seu glúten, e o que quiser, mas minha picanha, nunca. Você fica costurando as notícias e faz esse xale cheio de remendos e pior, continua nesse corpo. A mulher com seu olhar de faca afiada cortou também a “comida”, literalmente.
Costurando notícias - 1
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