A mais bela colcha numa mostra de arte moderna internacional, nem imaginaria. O cuidado e a perseverança nestes últimos 4 anos a rendeu um prêmio. Cacilda sabia que seu dom não se restringia à costura. Não tendo (Eu) muita habilidade com as mãos, sempre que a via na varanda entre as linhas e agulhas, a sensação era de que nunca acabaria a obra. Sobre suas pernas, recolhidas numa cadeira de rodas, o tecido crescia, quase que imperceptível. Mas o que intrigava era a alegria com que confeccionava. Não havia um dia sequer que não visse um vizinho, um amigo ou um religioso com ela proseando. Fui dar-lhe os parabéns com um abraço e perguntei: -Como se sente ao receber o prêmio? Ela respondeu: - Você fala da colcha de retalhos? Ah, não foi fácil, demorei muito, por não ter habilidade com as mãos, mas a varanda era a desculpa pra ver a vida acontecer, por causa das limitações, nunca pude viver livremente. E cada vez que aqui sentei, percebi que além de mim, vários outros sofriam, eram prisioneiros, corriam contra o tempo. Das dependências, a minha talvez fosse a menos limitante, imagine das drogas, do sexo, da corrupção. Coloquei tudo aqui. - Então a senhora não fazia colcha? “Não filha, costurava notícias de gente que não sai em capa de revista. Era mais um recorte da vida real, uns classificados, nas entrelinhas...” E eu lá constatando que errei duas vezes...
Costurando notícias- 2
Costurando notícias- 2