Se sinto saudades?
Quero dizer que não sinto saudades. Apenas paro o presente para folhear nossa história... Não, não dói, o que dói é não viver. Saudades são lembranças de vida, quem não viveu não tem do que se lembrar, é livro em branco...
Quando vejo um carro igual ao teu passar por mim, o coração acelera com a esperança tola de ser você.
Sabe aquela rua? Meus olhos insistem em olhá-la, e mesmo sem motivo algum, passo por ela semanalmente, é como um culto ao invisível, por pura fé de que vou te encontrar no mesmo dia e lugar.
Ainda vou ao mesmo cinema barulhento que frequentávamos, tão sem graça quanto os filmes que assistíamos sem prestar atenção ao roteiro.
Aquele restaurante com comidas sem pimenta e sal, tuas preferidas, aprendi a comê-las para sentir os sabores que aprecias e continuo não gostando. Tudo igual!
Hum... Não frequentei mais o zoológico desde que o camelo morreu por não se adaptar ao clima de Teresina, sabes que não suporto animais presos ou praticar esportes, tu que gostas de atividades ao ar livre e respirar ar puro. Eu, pelo contrário, sou movida a gás carbônico, preciso do barulho dos carros, do movimento, de beber e comer tudo que engorda.
Ah! Quantas discussões sobre política, futebol, religião, Hitler, Marx e tantos outros... até sobre E. L. James. Nunca pensamos igual, éramos contrários perfeitos, côncavo e convexo, buscando um lugar onde nossas incompletudes fossem completas. E, nos respeitávamos tanto que nossas diferenças não acabava em briga e sim num longo beijo de paz e amor.
Nossas brigas por ciúmes bobos feito adolescentes descobrindo o amor, isso tantas vezes nos afastou.
O silêncio ensurdecedor das tuas ausências tão presentes na nossa relação com sua completa indecisão. Tão volúvel enfrentando seus próprios demônios.
Os olhares cúmplices que só nós entendíamos, mesmo quando rodeados de pessoas éramos só você e eu.
Contigo nunca tive medo de ser eu mesma. Mostrei- te minha alma nua, o pior de mim.
Quantas poesias fizestes para mim! Em meus rabiscos tu sempre esteve no reverso dos meus versos e nas entrelinhas de tudo que escrevi.
Devo desculpar-me com as pessoas, pois finjo ouvi-las atentamente, enquanto meus pensamentos estão em algum lugar do passado...
Se sinto saudades?
Às vezes é tanta que confundo o real com o imaginário e, nesses momentos, percebo que sinto saudades até do que não vivi.
Se sinto saudades?
Não. É somente o sereno na alma que ainda não secou nem deixou a chuva cair.
Resposta à crônica do meu amigo Christian Messias.
Imagem do Google.