RHUN CREOSOTADO
BASTOS TIGRE O RHUN CREOSOTADO
Nelson Marzullo Tangerini
Manuel Bastos Tigre, poeta, jornalista e homem de propaganda, nasceu em Recife a 12 de março de 1882.
Sua obra poética parece estar esquecida, embora Tigre seja muito conhecido por uma poesia-propaganda, sobre o Rhum Creosodato, que não é de sua autoria e que foi lida nas antigas rádios e afixada no interior dos bondes da velha cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro:
“Veja, ilustre passageiro,
o belo tipo faceiro
que o senhor tem ao seu lado.
No entanto, acredite,
Quase morreu de bronquite:
Salvou-o o Rhum Creosotado”.
O tal Rhum Creosdato, remédio criado pelo farmacêutico Ernesto de Souza [1864-1928], há muito desapareceu das farmácias, como desapareceram os poéticos bondes da cidade do Rio de Janeiro, exceto os de Santa Teresa, agora atração para turistas endinheirados.
Para homenagear o amigo pernambucano, o humorista Nestor Tangerini publica, em fevereiro de 1948, na p. 8 de sua revista O Espeto, na coluna Espetos Rimados, um dos sonetos satíricos de Tigre. Dizia-se, na época, e o assunto desembocou em marchinha no Carnaval de 1950 [Vaga-lume, de Vítor Simon e Fernando Martins], que, no Rio de Janeiro, Capital Federal, de dia faltava água e à noite faltava luz.
O requintado humor de Bastos Tigre, portanto, estava afinado com a revista de Tangerini, também poeta satírico, e ganhou espaço na referida publicação de humor e satíra:
“NO DESERTO
Eis que Deus ao povo se declara
Em revolta: pragueja, em fúria, à plebe:
Água, Moisés! O sol requeima a seara!
Da nossa sede o céu não se apercebe!
Vendo Moisés a coisa feia, a vara
Vibra, contra o monte Horeb;
E eis que corre, copiosa, a fonte clara!
Água a fartar; e toda a gente bebe.
Bons tempos esses! Desmoralizou-se,
Hoje em dia, o prestígio milagreiro
Que fez a vida deleitosa e doce!
Quando pela manhã busco o banheiro,
Penso em Moisés... Oh! Se ele fosse
Manda-chuva... no Rio de Janeiro...”
Manuel Bastos Tigre faleceu na cidade do Rio de Janeiro em 1 de agosto de 1957, deixando uma vasta obra literária, lida apenas por um reduzido grupo de abnegados estudiosos de poesia satírica em língua portuguesa.