VIAGEM A MG III
AQUELA VIAGEM A MINAS
[O retorno]
Nelson Marzullo Tangerini
Saímos de Curvello, Nelson, Roberto e eu com destino ao Rio de Janeiro, via Belo Horizonte, encantados com os ares de Minas Gerais. Viemos cantando dentro ônibus, enquanto Roberto e eu cantávamos com ele. O repertório eram músicas belas e os passageiros gostaram. Aplaudiram. Eram músicas nossas [como Marte, o hino de nossa turma [de Osvaldo Luiz Cabral Martins, Nelson Maia Schocair e Nelson Marzullo Tangerini], de Raul Seixas, Milton e 14 Bis.
Tínhamos, então, mais duas músicas novas: Maçãzinha [de Nelson Maia Schocair] e 14 Bis [de Schocair e Tangerini].
Chegamos a Belo Horizonte naquela manhã esfomeados e percebemos que nosso dinheiro havia acabado. O que nos restava era o dinheiro para voltar para o Rio. Era domingo, e tínhamos de estar cedo no trabalho no dia seguinte. Também não havia mais passagens para o Rio - no horário da manhã e da tarde. O jeito foi comprar passagem no horário da noite para Barra Mansa. Havia três lugares no ônibus, mas estariam vazios até Barra Mansa, Estado do Rio de Janeiro. Compramos as três passagens.
Passamos o dia inteiro com fome. Roberto reclamava. E eu lhe dizia: “- Ou você come ou você viaja. Ou pede dinheiro na rua para voltar”.
Passamos a tarde perambulando pelas ruas de Belo Horizonte. Deixamos nossas bagagens com Padre Isidro, numa igreja da capital mineira. Fomos para a Praça da Liberdade para oxigenar o cérebro. Encontramos amigos, mas não pedimos comida ou dinheiro emprestado. Voltamos, pegamos nossa bagagem com o padre e partimos para a rodoviária, onde nos sentamos até a chegada do ônibus.
A fome era desesperadora. Nosso estômago comprimido e nós ali, na ânsia voltar para casa e ver o pesadelo passar.
Enfim, chegamos a Barra Mansa. O bilheteiro nos devolveu o dinheiro da passagem Barra Mansa – Rio e, com ele, compramos nossas passagens para o Rio. Estávamos felizes por estar em nosso Estado e perto de nossa capital.
Para nossa surpresa, ainda sobrou uma graninha. Com ela comemos um ovo frito, um ovo frito que foi dividido por três, e ainda tomamos uma cachaça.
Enfim, chagamos à Rodoviária Novo Rio, na capital fluminense. Eram mais de duas horas da madrugada. Para casa, tomamos um táxi, que foi pago pelo Sr. Roberto, pai de Roberto, pois combinamos assim. Nelson Maia Schocair desceu no Encantado, eu, Nelson Marzullo Tangerini, desci em Piedade e Roberto Carlos Costa de Oliveira, o último, desceu em Cascadura.
Ninguém deixou, portanto, de trabalhar naquela segunda-feira. Estávamos exaustos. O sono nos dominava, no horário de trabalho. A todo instante lembrávamos de nossa louca aventura.
À noite, naquela segunda-feira, estávamos, como de costume, todos reunidos na casa de nosso amigo João, à Rua Cruz e Sousa, Encantado, onde João, Osvaldo e nossos amigos nos esperavam ansiosos por notícias de nossa viagem. A casa do João era o ponto de encontro de nossa turma.
Contamos nossa história para amigos e amigas e João e Osvaldo se limitaram a dizer: “- E vocês ainda queriam que fôssemos com vocês”.