ELA - I

Ela estava confusa. Há dias isso lhe incomodava. Não era de estar assim, o que lhe causava tamanho espanto. Seus pensamentos sempre foram de boa companhia, mas, há dias, lhe azucrinavam o juízo, a ponto de quase lhe tirar a paz.

- Me deixem! Vão pairar em outro lugar!

Mas não, não adiantava. Logo ao despertar eles estavam ali, gritando:

- Presente!

Não havia muito espaço para permiti-los dominar àquela hora. Então, o dia, era mais ameno. O trabalho, as pessoas, lhe tomava quase todos os seus pensamentos, fazendo parecer estar tudo normal. Pobre engano! Ela sabia que logo mais, ao fim do expediente, estariam todos de volta, lhe requisitando tempo, lhe obrigando a ouvir suas vozes, requerendo sua completa atenção.

Ela estava cansada. Queria apenas naquele momento um pouco descanso. Um lugar de silêncio, onde sua mente pudesse repousar. Seria possível? Um pouco de paz?

Sua alma estava desnuda, a água morna desenhava seu corpo. Suas lágrimas corriam juntas àquela torrente sugada pelo ralo. Acabara de perder a batalha. Não havia fuga! Agora, além de todos àqueles pensamentos, lhe tomavam também o coração.

- Por que a mim? Se questionava.

Preferia que assim não fosse. Invejava aos tantos que ao seu redor transpareciam nada lhe ocorrer. Mas, também não sabia que faces traziam por trás de suas máscaras. Poderia também haver dores, medos, dúvidas, inseguranças. Julgava o mundo cruel. As pessoas muito mais. Tinha somente a si e tudo aquilo que há tempos lhe incomodava a alma.

Não sabia por onde começar, nem se valeria a pena. Perguntava-se se aquilo não deveria ser tido como normal, mas, revoltava-se, não haveria de ser! Mas, o que fazer? Onde estaria a solução? Ainda não havia encontrado. Frustrava-se ao ponto de ir deitar-se emburrada, chateada. O sono lhe fazia graça e dava voltas e voltas em todos os lugares daquele incômodo até ver todos os minutos daquelas horas sem fim, passar lentamente consumindo seu descanso.

Ela estava confusa. Acordava assim, há dias, sabendo que não havia fuga. Isso lhe incomodava, pois não era de estar assim, o que lhe causava tamanho espanto. Seus pensamentos sempre foram de boa companhia, mas, há dias, lhe azucrinavam o juízo, a ponto de quase lhe tirar a paz.

Fernanda A. Fernandes

15/07/2019

Fernanda A Fernandes
Enviado por Fernanda A Fernandes em 15/07/2019
Reeditado em 29/08/2019
Código do texto: T6696223
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.