Pesadelo, calmante para a mente!

Se alguém quiser uma explicação mais complexa recomendo: Freud; Interpretação dos Sonhos; Imago; Volumes IV e V. Da minha parte, contento com as funções básicas dos sonhos: proteger o sono, realizar desejos do sonhador e servir como palpite para o jogo do bicho.

A humanidade é impulsiva.

A encrenca da humanidade, desde que o mundo é mundo, é o medo da impulsividade, tanto da natureza, quanto de si própria. Lá nos primórdios e mesmo hoje, não se pode ouvir um trovão, um balangar de terra, sem um Deus me acuda. Um sonho esquisito, uma palavra mal dita, um pensamento extravagante são motivos para acordar palpitante, bater na boca por proferir tal asneira, dar toquinhos na madeira para se proteger de mau agouro!

O processo civilizatório é o contínuo exercício da repressão dos impulsos que põem em risco a vida social relativamente sustentável. Relativamente sustentável na dimensão em que a comunidade civilizada possa realizar suas necessidades básicas históricas. Mas é justamente a repressão dos impulsos, ainda que em nome de vida relativamente civilizada, que nos mantém reféns do sobrenatural e da magia.

A humanidade é mágica!

Curiosamente, numa rádio qualquer, estou ouvindo alguém dizendo que o seu ouvinte está com depressão por causa de problema espiritual e que ele, o alguém, em nome do ente sobrenatural, vai intervir e curá-lo!

Deixando para meu amigo Freud explicar tanta complicação, quero, como cronista, dar minha palavra de honra que o sonho, de qualquer natureza, acontece com uma intensidade vivencial tão real, que nos palpita, mas numa dimensão virtual, tal qual o game. Ele não acontece na realidade.

E o grande trunfo do sonho, ele realiza enquanto se está liberto de exigências e amarras da vida civilizada, então a atividade onírica flui sem se preocupar com censuras, regras, leis, obrigações. O sonho é momento de fazer o que o diabo gosta, tudo que a vida impulsiva preza, mas não pode (ou não convém) na realidade!

A mente tem esta peculiaridade: ela se realiza virtualmente!

Se se conseguir diminuir o medo do sonho, entende-lo como uma atividade mental que protege o sono, uma realização de desejo virtual, no máximo um palpite para o jogo do bicho, o sonho se transformará, particularmente os pesadelos, no calmante mais eficaz para a mente!