VIAGEM A MG
AQUELA VIAGEM A MINAS
Nelson Marzullo Tangerini
Um vento gelado me leva à canção que escrevi, certa vez, em Curvelo, pequena cidade de Minas Gerais, no meio do caminha para Diamantina, de parceria com Nelson Maia Schocair e Roberto Carlos Costa de Oliveira: “Amigos, fotografias, trem fantasma, ferrovias, gente me recriminando, 2322. Quase digo adeus ao mundo; por um triz, por um segundo, não te vejo mais meu Rio, 2322. Nesse doce mistério, vândalo vampiro da noite me aparece de repente, com a certeza indecente de estar jurado, de estar marcado, como um cavalo bravo, como um cavalo bravo”.
Fotografias perdidas, que não pudemos revelar e o tempo não traz de volta; fotografias que ficaram registradas em nossa memória. Porque Roberto, distraidamente, abriu a câmera fotográfica, depois de ter tomado um aperitivo.
Aquele amigo se foi. Carregou consigo a tristeza que nunca soube transmitir. E eu queria lhe dizer que a sua vida poderia ser mais longa e bela. Ficam na memória aqueles momentos em que a felicidade, fruto de nossa grande amizade, brilhava em nossos corações e olhos imaturos. Música e viagens, meninas e Minas eram nosso universo.
Trens fantasmas, ferrovias, e um carro assassino [2322] veloz, audacioso, tentando tirar a vida de meu xará, Nelson Maia Schocair.
Naquela noite, dormimos na casa de nossa amiga Marta. Ela tinha um quarto com três camas. Schocair, de cara, ficou com a cama de lençol azul. E Roberto e eu ficamos com as camas de lençol rosa e roxo. Houve um cara e coroa entre nós dois e eu fiquei com o roxo, o que ninguém queria, depois do episódio do carro 2322.
A árvore dos enforcados, robusta, cheia de vida, contava histórias de mortes, enquanto vozes tristes tentavam nos pedir socorro e prece. Mas por que pensar nisto, agora? Por que pensar naquele amigo que não está mais presente entre nós? É que a idade avança e costumamos nos lembrar dos amigos que se foram. E eu queria homenagear Roberto, aquele amigo que assistiu comigo ao show de Mercedes Sosa, no Ginásio Caio Martins, em Niterói. Depois do show, fomos ao Hotel NovoRio, onde a cantora argentina nos recebeu. Já escrevi sobre isto, numa crônica dedicada à Argentina.
Um vento gelado, um vento mineiro, leva minha triste canção ao amigo ausente para sempre.
Roberto, receba, em sua nova morada, o meu abraço amigo. Nelson.