Não sei vocês, mas quando quero ver o tempo passar rápido, faço limpeza no escritório, especialmente papéis. Trabalho difícil de realizar por causa da quantidade deles (acumuladora talvez), principalmente por ser a “garota” do papel: de pão, do guardanapo, do papel toalha, do papel higiênico. É... Escrevo também na capa de livros, bíblia, cartões de visita dos amigos e nas mãos, uma forma que encontrei de não deixar morrer uma ideia, à míngua. À noite essa tarefa se torna um pouco mais difícil, então coloco no bloco de notas do celular para um dia qualquer retomar.
Quando queimo papéis (por aqui queimá-los no quintal é crime então é preciso usar um tambor para fazê-lo indiretamente: leis em favor da natureza!) tenho a sensação que abro espaço para novas ondas de criatividade. Além do mais, dou uma trégua pra meditação, às vezes, tenho a ligeira impressão de que está de cara virada.
Já disse mais de uma vez da minha paixão por Rubem Alves, só não superada por Inácio de Loyola Brandão, seus escritos são uma espécie de de cócegas na alma, é como se o amor risse naturalmente, sem necessidade de estímulo. Rubem Alves foi um mito literário e sua morte, aliás, dele e de Ubaldo e Suassuna se deram em tempos muitos próximos, infelizmente. Perdas irreparáveis no meio intelecto-cultural. Encontrei um pequeno texto que escrevi no dia 23 de Julho de 2016 logo depois da despedida de um deles, feito à mão, assim:
"E lá estavam elas, de todos os cantos do país (de outras nacionalidades também) com suas bandeiras de protesto. Havia algo diferente com aquela multidão. Estavam amontoadas, sufocadas e queriam soltar seus sons, tons, mas não podiam. Sentiam-se pobres, como se tivessem perdido tudo. Ensaiavam uma fila, na tentativa de organizar aquela comitiva, mas era frustrada. Estavam um pouco perdidas, sem rumo, medo de serem esquecidas. E mesmo sem jeito, enlutadas e tristes retomaram os seus sentidos, e por um instante, receberam o sopro da vida e choraram. Como haveria vida sem eles? Quem agora as reuniria? Decerto, não era em vão... E gritaram escandalosamente (na paz inquieta da alma) voltem Ubaldo, Rubens e Ariano!
E Deus fechou a porta... Afinal, o vento era forte e as palavras frágeis, tocando o coração..." (lê-se palavras em elas)
Ainda não consegui precisar o sentimento que me tomou no instante em que li esse texto: um frio na barriga, um arrepio da nunca, uma nostalgia... E, claro, a certeza de que “os bons morrem cedo” e os maus fazem “seresta póstuma” para quem jamais gloriou. Será que estão assistindo no telão divino? Quiçá...
Quando queimo papéis (por aqui queimá-los no quintal é crime então é preciso usar um tambor para fazê-lo indiretamente: leis em favor da natureza!) tenho a sensação que abro espaço para novas ondas de criatividade. Além do mais, dou uma trégua pra meditação, às vezes, tenho a ligeira impressão de que está de cara virada.
Já disse mais de uma vez da minha paixão por Rubem Alves, só não superada por Inácio de Loyola Brandão, seus escritos são uma espécie de de cócegas na alma, é como se o amor risse naturalmente, sem necessidade de estímulo. Rubem Alves foi um mito literário e sua morte, aliás, dele e de Ubaldo e Suassuna se deram em tempos muitos próximos, infelizmente. Perdas irreparáveis no meio intelecto-cultural. Encontrei um pequeno texto que escrevi no dia 23 de Julho de 2016 logo depois da despedida de um deles, feito à mão, assim:
"E lá estavam elas, de todos os cantos do país (de outras nacionalidades também) com suas bandeiras de protesto. Havia algo diferente com aquela multidão. Estavam amontoadas, sufocadas e queriam soltar seus sons, tons, mas não podiam. Sentiam-se pobres, como se tivessem perdido tudo. Ensaiavam uma fila, na tentativa de organizar aquela comitiva, mas era frustrada. Estavam um pouco perdidas, sem rumo, medo de serem esquecidas. E mesmo sem jeito, enlutadas e tristes retomaram os seus sentidos, e por um instante, receberam o sopro da vida e choraram. Como haveria vida sem eles? Quem agora as reuniria? Decerto, não era em vão... E gritaram escandalosamente (na paz inquieta da alma) voltem Ubaldo, Rubens e Ariano!
E Deus fechou a porta... Afinal, o vento era forte e as palavras frágeis, tocando o coração..." (lê-se palavras em elas)
Ainda não consegui precisar o sentimento que me tomou no instante em que li esse texto: um frio na barriga, um arrepio da nunca, uma nostalgia... E, claro, a certeza de que “os bons morrem cedo” e os maus fazem “seresta póstuma” para quem jamais gloriou. Será que estão assistindo no telão divino? Quiçá...