Fim de um dia de outono
A chuva e o frio congelavam as palavras. Apressava o passo no desejo de adentrar a sala de estar e experimentar o seu calor.
O fim de tarde trazia a nostalgia destes outonos frios e com ventos. O dia tinha transcorrido com energias negativas e um banho quente era o desejo do momento.
Cabisbaixo, focava as gotas que caiam no desenho do passeio. Formavam um mosaico de estranhas imagens que eu julgava serem enviadas do céu.
Piscava os olhos para não entrar naquela alucinação visual. Era em vão. O pensamento já tinha sido tomado pela sua presença tão ausente.
Recordava em flashes sua risada despretensiosa. Elas soavam como capa de chuva a proteger-me do risco de um resfriado. Era mágico descer com você a ladeira escorregadia da rua 15. O perigo se tornava um jogo e eu sempre perdia, pois permitia o medo tirar a beleza do momento.
Outros flashes traziam o seu gingado quando apressava o passo para evitar o atraso que já se estendia por 27 minutos. Nossos olhos se cruzavam e eu cruzava o mundo num instante. Era como se o eterno tocasse a limitação e eu não queria que aquele momento acabasse.
Meu pensamento é interrompido pelos pingos de chuva. Agora mais grossos e misteriosamente mais frios. Falta apenas um sinal para atravessar a rua movimentada com os carros que transportam almas semelhantes à minha.
Avisto, então a porta da casa. Na fechadura o guarda-chuva que ainda pingava. Por um instante relembro seu gingado, agora virando a esquina. Sou tomado pela dúvida se era realmente você.
Se sim, foi-se embora molhando e para trás deixando um sinal. Devolveu o instrumento que te protegia. Fechei a porta e me vi com dois guarda-chuvas - um molhado de chuva, outro banhado na agonia.
Experimentei a sala quente. Um bom banho e minha companhia. Um vinho recebido com um bilhete e no ar um fado eloquente. Fazia frio lá fora e eu aqueci a minha mente.
Desceria inúmeras vezes a rua 15 sem mais atrasos. Voltaria pra casa antes do trânsito enlouquecedor. Apenas teria que lidar com a escolha de um guarda-chuva nos dias frios do outono.
Fotografia de @melnechukya
A chuva e o frio congelavam as palavras. Apressava o passo no desejo de adentrar a sala de estar e experimentar o seu calor.
O fim de tarde trazia a nostalgia destes outonos frios e com ventos. O dia tinha transcorrido com energias negativas e um banho quente era o desejo do momento.
Cabisbaixo, focava as gotas que caiam no desenho do passeio. Formavam um mosaico de estranhas imagens que eu julgava serem enviadas do céu.
Piscava os olhos para não entrar naquela alucinação visual. Era em vão. O pensamento já tinha sido tomado pela sua presença tão ausente.
Recordava em flashes sua risada despretensiosa. Elas soavam como capa de chuva a proteger-me do risco de um resfriado. Era mágico descer com você a ladeira escorregadia da rua 15. O perigo se tornava um jogo e eu sempre perdia, pois permitia o medo tirar a beleza do momento.
Outros flashes traziam o seu gingado quando apressava o passo para evitar o atraso que já se estendia por 27 minutos. Nossos olhos se cruzavam e eu cruzava o mundo num instante. Era como se o eterno tocasse a limitação e eu não queria que aquele momento acabasse.
Meu pensamento é interrompido pelos pingos de chuva. Agora mais grossos e misteriosamente mais frios. Falta apenas um sinal para atravessar a rua movimentada com os carros que transportam almas semelhantes à minha.
Avisto, então a porta da casa. Na fechadura o guarda-chuva que ainda pingava. Por um instante relembro seu gingado, agora virando a esquina. Sou tomado pela dúvida se era realmente você.
Se sim, foi-se embora molhando e para trás deixando um sinal. Devolveu o instrumento que te protegia. Fechei a porta e me vi com dois guarda-chuvas - um molhado de chuva, outro banhado na agonia.
Experimentei a sala quente. Um bom banho e minha companhia. Um vinho recebido com um bilhete e no ar um fado eloquente. Fazia frio lá fora e eu aqueci a minha mente.
Desceria inúmeras vezes a rua 15 sem mais atrasos. Voltaria pra casa antes do trânsito enlouquecedor. Apenas teria que lidar com a escolha de um guarda-chuva nos dias frios do outono.
Fotografia de @melnechukya