QUE HÓSPEDE, NÃO

Todos as manhãs, tomando banho de sol junto à grade da rua, Tôfu e eu, sentados, esperamos o jornaleiro jogar o pacote. E, aí, é uma disputa. Se ele pegar primeiro segue uma correria para retomá-lo.

Vou para a sala contígua para ler os jornais e fazer a Palavra Cruzada numa mesinha. O Tôfu, continua lá na cadeira tomando sol, lançando olhares enviesados para mim. Ele detesta que eu o deixe e fique folheando o jornal. Ele quer que fique papeando, olhando as mulheres de sempre, fumando e conduzindo outros cães.

Assim que por um instante eu me afaste da mesa onde estão os jornais, ele vai lá e estraçalha todos.

Quando conto a história para a dona do Tôfu, minha filha, ela até acha graça da arte do seu adotivo. O pior é que vou ter que hospedá-lo até o final das férias.

Esta outra do Tôfu, passando as férias em Lins. Todas as tardes assistimos tevê juntos. Ele deita ao meu lado no sofá e até ronca. Outro dia, como estava frio, coloquei uma boina que nunca usara antes. Estava lá junto com as tranqueiras. De repente, o Tôfu acorda e leva um susto vendo-me com a boina. E rosna várias vezes, ameaçando-me. –Sou eu, Tôfu..Sou eu...Aí ele se acalma...