Longo texto (minha vida fazendo apostas)
Estima-se em R$3 bilhões de reais o volume de apostas esportivas realizadas no Brasil no ano de 2018.
Com a globalização e com as novas tecnologias, os brasileiros passaram a apostar online em sites estrangeiros, todos já traduzidos para o português, como o Bet365 (www.bet365.com/pt/). Sendo que a legislação é circunscrita ao território nacional, qualquer brasileiro com cartão de crédito internacional e acesso à internet pode fazer suas apostas legalmente, já que os sites, além de estarem hospedados em nuvem, têm suas sedes registradas em países onde o jogo é uma atividade regulamentada e rentável.
Sou um retardado mental. Uso meu dinheiro suado para apostar em jogos esportivos. Em quase tudo. Futebol, Basquete, Volei, Hockey, Bediminton, baseball...
Adoro a emoção da aposta. E faço tudo isso enquanto minha mulher observa quieta. E eu conto a ela as vezes que eu ganho, e tento esconder as vezes que eu perco. Óbvio, não sou tão imbecil de fazer ela sequer pensar que eu estou perdendo o dinheiro do leite (ou da cerveja) com essa minha diversão viciante e barata que é o mundo das apostas. Li uma frase um dia desses que dizia: "Nenhuma mulher suporta um marido apostador... A não ser que ele seja um vencedor constante."
E acreditem ou não, eu tenho sim meus momentos. Nestes 4 anos que passei apostando, posso dizer que eu já perdi cerca de uns 800 Reais em dinheiro vivo, mas ganhei mais de 4000 reais. Ou seja, um lucro de 3200 reais em 4 anos de diversão. É pouco? Pra mim não.
Hoje estou aqui em mais um dia bom no escritório. Obviamente tenho um emprego normal pra pagar as contas. Como não há o que fazer, estou analisando os jogos de hoje do Campeonato Canadense de Futebol Americano. Não gosto de assistir, mas gosto de apostar. Não gosto de perder, mas sem arriscar, não se ganha. Além disso, sem apostas, assistir qualquer tipo de jogo pela televisão torna-se um terrível tédio. Especialmente o futebol brasileiro. Deus me livre. Assisto as vezes os jogos do Internacional com o meu sogro porque é divertido ver ele sofrer. Mas fora isso...
Resolvido. Apostei 30 Reais no jogo entre o Saskatchewan Roughriders
Versus o time visitante Toronto Argonauts.
Saskatchewan (pronuncia-se Ses-qé-tchu-an) é o nome de um dos estados do Canadá (como Santa Catarina, Acre, Bahia, Paraná e Roraima são do Brasil). Sua capital é chamada de Regina, tipo o nome daquela tia do seu vizinho.
O nome Saskatchewan foi derivado do nome de um rio, que era chamado pelos antigos índios de kisiskaciwani-sipiy, que significa Rio de fluxo muito rápido.
Interessante, não? Pois é, aprende-se muita coisa inútil e interessante ao entrar no mundo das apostas.
Agora são 18:06 horas, e o jogo só vai começar as 20:00. Acabará lá pelas 23:00 eu imagino. Até lá, com certeza meu coração sofrerá de arritmia (batimento do coração com ritmos inconstantes) e alguns pequenos picos de adrenalina, principalmente se eu ficar pensando no jogo e acompanhando o placar. Aa cabeça começa a dor devido ao stress causado pelas emoções de arriscar dinheiro, perder o dinheiro, considerar-se um estúpido por apostar dinheiro em um time que eu mal conheço em um esporte que eu nem gosto, ou por talvez eu ganhar alguma grana e me sentir o maioral por conseguir "descobrir" uma partida em que "foi tão fácil conseguir dinheiro". Enfim, as emoções são tantas e vão tão rápido do fosso de merda ao paraíso que é impossível descrever. E é por isso que apostar é tão viciante, por te dar emoções grátis.
Soma-se a isso as doses de café que eu vou tomando ao longo do dia (outro vício magnífico que eu adquiri com o passar dos meus breve 31 anos de idade) e está pronto o coquetel viciante que provavelmente vai me matar de AVC ou ataque cardíaco quando eu chegar ali nos 60 anos de idade.
Mas toda essa emoção vale a pena... certo?
Errado. Por isso eu não comento deste meu vício para meus familiares. E nem para a maioria dos meus amigos. Eles me acham muito burro no geral, e sempre vão achar que eu estou sendo estúpido por estar perdendo dinheiro. E até é verdade. A maioria das pessoas com quem convivi durante a minha infância,, adolescência e inicio da vida adulta possui uma grande e total certeza de que eu não sou esperto, sou apenas um pouco inteligente. Mas eles somam a isso o fato de eu ter sido um palerma covarde por muitos anos (e ainda sou as vezes), e pelo meu grande insucesso acadêmico e profissional. Portanto evito falar isso para a maioria das pessoas.
NO ENTANTO, para meus amigos ou colegas para quem eu compartilho este meu pequeno e estúpido (e meio-inofensivo até eu começar a perder) vício, a regra geral é a de que eles SEMPRE dizem que querem começar a apostar também, mesmo que eles próprios QUASE NUNCA assistam qualquer tipo de esporte pela televisão, fora, claro, alguns jogos do Brasil e do "time de coração" deles, e alguma estúpida corrida de Fórmula 1, que eu particularmente não tenho o menor saco de assistir e muito menos de apostar.
mas estes amigos que se acham espertos geralmente são preguiçosos ou medrosos demais para começar no mundo das apostas, resultando em que eu não possuo nenhum amigo (nem conhecido) em minha cidade que compartilhe deste vício tão lindo.
Segundo dia
Ganhei! Haha! Saskatchewan ganhou de 32 a 7! Maravilha. Como eu apostei 30 reais com odds de 1.80, temos que fazer o cálculo 30x1.8 que é igual a 54. Fazemos então 54-30(pois eu foi o dinheiro que eu coloquei pra apostar, e a soma dessa subtração (?) é igual a 24. Ou seja, ganhei 24 reais com a minha aposta! Como podem ver, estou agora multimilionário!
Aleluia! Deus é pai!
Agora, para manter a minha cabeça saudável, e também conseguir preservar o dinheiro suado (?) que eu ganhei com as apostas, eu preciso me manter afastado das apostas por algum tempo. Mas quanto tempo? Isso varia. Pode ser 1 dia, 1 hora, uma semana, 1 mês ou 15 milhões de anos. Eu nunca sei. O que eu sei é que, após uma vitória (ou derrota), é preciso se distanciar, agradecer aos deuses por mais um bom jogo e esperar um tempo. Se não os Deuses vêm até você e te punem pela sua ganância, e te fazem perder os próximos 2 ou 3 jogos. Os Deuses das apostas são cruéis com as pessoas gananciosas, isso eu posso lhe garantir.
Terceiro dia
Hoje tem jogo!
Mas não vou apostar. Merda. A sensação de ir contra o vício é perturbadora. Analisei alguns jogos, pra ver se realmente não havia nenhuma "batata" (aposta fácil de ganhar). Não encontrei, exceto no jogo do Brasil contra a Argentina na semifinal da copa América realizada aqui no Brasil mesmo. Enquanto eu assistia o jogo, a opção de que sairia pelo menos 1 gol no primeiro tempo estava com odds de 1.80. Fiquei com vontade de arriscar, mas... não apostei. Acho que fiquei com um pouco de medo. 1 minuto se passou e a droga do Brasil fez um maldito gol! Argh! Que raiva! Eu deveria ter arriscado. Fiquei tão puto de raiva que desliguei a TV e fui tomar banho.
Apostar é isso, uma montanha russa de emoções, boas, ruins, agridoces. Uma bosta. Enfim. É por isso que eu amo essa merda.
Sétimo dia
Estou num dilema! Sem apostar, não consigo escrever nada! Era como a 10 anos atrás, quando eu precisava beber para escrever. Sem bebida, sem escrita.
Diacho! Funciono a base de vício? Será?
Talvez. Acontece que hoje vou por minha teoria à prova:
Vou fazer uma aposta, pequena, hoje, só pra ter certeza de minha teoria: Se eu ganhar, amanhã continuo apostando, e se eu perder, amanhã eu retorno para escrever de novo. Vou sair ganhando nos dois casos.
Já são 18 horas e poucos minutos, de sexta feita, o que significa que teremos muitos jogos de baseball hoje a noite.
Okay, todas as apostas disponíveis parecem que vão fazer de mim um perdedor. Em que sentido? No sentido de que não estarei me divertindo, apenas me preocupando, e criando um fato artificial para escrever. O que é uma merda e não presta pra porra nenhuma.
Essa história, na verdade, de apostar, emoções... Nem sei o que dizer... Besteira é o que elas são. Escrever também. A busca interminável por um prêmio, uma recompensa, um reconhecimento do seu trabalho, que no final, nunca será melhor do que o dos outros. Pois todos são bons a sua maneira. E todos também são péssimos, cada um a sua maneira. De todos os bilhões de pessoas que existem no mundo, alguns se destacam, outros não. Mas no fundo, todos temos vidas semelhantes. O que fazemos com elas é puramente relativo. E buscar a pureza, é aquilo que raramente fazemos. Vencer e perder fazem parte do mesmo cíclo. Ying Yang, branco e preto, noite e dia. Viver e morrer. Tristeza e alegria. Para experimentarmos a alegria, temos que conhecer a tristeza. E não, não estou filosofando porque usei droguinha. Podem ter certeza de que, no meu passado, quando eu usava droguinha, os textos que eu escrevia eram muito mais "juntos e shallow now" (Ou seja, puro lixo, embora mesmo sob o vício de drogas, que durou por alguns anos, também existia o mesmo ciclo de tristeza e alegria, pontos altos e baixos, textos bonitos e incríveis, e montes e montes de lixo).
Agora preciso ir trabalhar. Ensinar inglês a alunos que não querem aprender. Vão fazer balé ou beber no bar, queridos alunos, que estarão dando mais valor ao dinheiro que seus pais e avós estão pagando pelo curso de inglês de vocês.