DESCUIDO

Acabo de chegar da residência de minha filha.

No momento de vir para casa, pus o casaco bonito, o cachecol elegante, os brincos combinando, passei batom, retoquei o perfume, peguei a bolsa e chamei o carro do aplicativo.

O automóvel veio para combinar, não entendo muito de marcas deles, mas me lembro de que era um Fusion (estava anotado no aplicativo) cheirando a novo, bancos de couro, o cinto de segurança todo almofadado, funcionando sem complicações.

O motorista, um Sr. muito elegante, educado, fino, boa prosa, português corretíssimo. Calmo, assim que embarquei perguntou-me se o ar estava bom naquela temperatura, prontificou-se a mudá-la, caso eu preferisse. Disse que havia balas doces à disposição. Perguntou-me se a música que tocava era do meu agrado e se o volume do som estava adequado. A música, aliás, era de muito bom gosto.

Viajei sentindo-me em uma nave inesperada.

No destino, ao descer do veículo, senti-me uma madame merecedora de tantas atenções, afinal, eu havia me trajado com esmero e, nesta altura da vida, eu bem que mereço atenções refinadas, julguei.

Desci do carro me achando a última bolacha do pacote.

Quando dei o passo em direção ao meu portão, bem iluminado por sinal, lá estavam nos meus pés elas: as pantufas feias e deselegantes, que me esqueci de descalçar, para colocar os sapatos de passeio no lugar delas. Sempre as levo, para proteger meus pés do frio, enquanto permaneço por lá.

Esqueci-me de fazer a importante troca, para o meu momento madame.

O meu portão nem precisava ser tão iluminado...

Dalva Molina Mansano

10.07 2019

Dalva Molina Mansano
Enviado por Dalva Molina Mansano em 11/07/2019
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