CELULAR

10jul19

Hoje em dia quando dizemos- celular – pensamos logo no pequeno aparelho que nos conecta com todos e a tudo. Antigamente celular era o que era relativo a célula. Celular também era utilizado como sinônimo de cadeia, penitenciária.

E é aí que nos propomos a fazer um “shake” misturando todos os significados e significâncias de celular pois ele o telefone passou a compor nosso organismo e nos aprisiona.

Atualmente o celular já se tornou parte de nós. Esquecer o celular é pior do que esquecer óculos ou do dia em que começou o namoro. No celular temos nossa agenda, nossos contatos, as planilhas do excel, os textos do word, as apresentações do power point iguais as apresentadas pela lavajato, nele encontramos as piadas mais recentes, a fonte de inspiração para louvarmos belos corpos, o aviso da Cemig que vai faltar luz para manutenção da rede, o que a rede globo falou de mal do Bolsonaro ou o que deixou de falar de bem, as viúvas de todos os 352 gêneros atualmente existentes que gritam lulalivre, as últimas e as futuras prisões dos corruptos políticos (desculpem o quase pleonasmo), temos sob os nossos olhos os filmes recém lançados, as tvs de esquerda, de direita e de centro e as rádios de todo o mundo para ouvirmos músicas de ontem, de hoje e de amanhã, e outras que certamente músicas não são de Anitas, Pablos e MCs um montão de coisa, as notícias e os comentários sobre tais notícias as quais já havíamos recebido de pelo menos 5 grupos do Zapzap. Nele temos jogos que fazem as duas horas de espera da nossa andrológica consulta médica passar mais rápido, fazemos cálculos de trigonometria, desmentimos nosso gerente quanto ele nos diz a que taxa nos financia. Sabemos se vamos precisar do guarda-chuva, de agasalho e se vai dar praia. Nele enfim temos nossa vida, nossos caminhos, nossos amores e a possibilidade de bloquear nossos desamores. Já não precisamos digitar, eu dito ele escreve e eu corrijo. Foi o celular que transformou o telefonema numa invasão de propriedade, hoje mandamos uma mensagem de zap perguntando: “posso te ligar”?

Estamos vivendo uma mutação genética, a mudança na curvatura de nossa coluna já é notada pois andamos olhando para baixo e dentro de algum tempo voltaremos a ter a conformação de nossos antepassados os Australopitecos. Os dedos polegares serão maiores e com maiores possibilidades de rotação, a palma de nossa mão terá uma tira de pele transparente para nela prendermos o celular.

Tal e qual os ciclopes desenvolveremos um olho central que terá a função específica de nos desviar de postes, vidraças e paredões, pois os dois olhos que hoje temos serão exclusivos para a telinha.

Num futuro um pouco mais distante, já nasceremos com um conjunto de neurónios que terão todas as funções dos celulares. Passaremos a falar sozinho aos olhos dos outros e não seremos considerados malucos. Mas um problema existirá, quando ativarmos o módulo vibrar iremos revirar os olhos e teremos que explicar ao doutor delegado que não estávamos cometendo nenhum atentado ao pudor.

Geraldo Cerqueira