Maldita vara de marmelo
Esses repórteres sensacionalistas prestam um desserviço à sociedade. O estilo brigão, que estufa o peito para mostrar sua incompetência virou moda. Ouvi, ontem, uma reportagem onde o apresentador comentava o crime cometido por um menor (furto ou roubo).
Na oportunidade, ele começou a falar sobre a importância da vara de marmelo. Veio com aquela conversa já conhecida: minha mãe não hesitava em, vez ou outra, corrigir-me com uma varinha de marmelo... E defendia-se em sua fala de repórter prestador de desserviço: Não, não estou aqui defendendo o espancamento de crianças. É que, agora, se eu der uma palmada em meu filho estarei cometendo um crime. Criticou o fato de o filho levantar a voz para os pais dizendo: - Eu sei de meus direitos.
É preciso entender que tudo é uma evolução: o ideal é que o filho diga qualquer coisa aos pais, sem levantar a voz. Mas conhecer seus direitos é um instrumento de defesa contra pais violentos, tão comum no passado. É bom que a criança saiba de seus direitos sim, estará ajudando aos próprios pais. Exigir conversa - em lugar de palmada, varada - já seria o início de um diálogo muito frutífero. Diálogo é uma abençoada palavra.
Toda mãe com mais de um filho sabe que é comum haver um que exige mais paciência, que dá mais problema na escola, que leva pra casa a borracha do coleguinha,... Era deste último que o repórter estava falando, porque ele se revelou "levado" e acha que a educação recebida foi válida.
Não entendo essa saudade que a palmada provoca. Entendo que a lei da palmada apenas exige, com força de lei, uma substituição da palmada por um: - Vamos conversar, filha(o)?
A julgar pelo que vejo na TV, nada mais correto do que isso. Quem defende o uso da vara de marmelo, palmada, etc deveria pensar nos pronto-socorros que estão sempre atendendo bebês, crianças espancadas. Não somente, mas muito mais frequentemente, vindas de lares desestruturados material e humanamente. Essas crianças, educadas com violência, verão a violência como instrumento de solução de problemas. Esses repórteres de fundo-de-quintal deveriam pensar que a sociedade mudou.
O que mais se vê são: pais sem tempo para os filhos, pais estressados por n-razões, pais drogados, pais querendo dormir para pegar lotação pro trabalho, pais desempregados, pais que enchem casa de filho e não dão conta de criar. Enfim, pais, ricos ou pobres, que querem que a criança seja adulta precocemente. Isso é um risco para as crianças! Tudo começa quando a falta de diálogo e a falta de paciência são substituídas por uma palmadinha básica que evolui para espancamentos mortais.
Condeno esse discurso superficial, essa fala direta, que tanto empolga os ouvintes mais despreparados: daqui a pouco os próprios pais estarão pedindo a volta da palmatória para melhorar a qualidade de ensino de nossas escolas. É um desserviço o que esses aplaudidos apresentadores prestam.