Comparações
Quando somos crianças, a comparação é inevitável.
— Nossa, se parece com o pai.
— Se parece mais com a mãe.
Particularmente, não me sentia confortável, quando, ao sair, encontrava algum conhecido e começava a dizer que eu era a cópia de um, ou de outro. Sei que qualquer comparação com os pais é motivo de orgulho, mas nunca consegui esconder o desconforto ao ser comparado com eles. Sentia que havia uma pressão para ser igual a eles em tudo.
Com o passar dos anos, a comparação acabou. Veio então a pergunta clássica:
— O que vai ser quando crescer?
É uma pergunta simples, eu sei, mas nenhuma criança sabe respondê-la. Lembro que cheguei a responder para uma vizinha que eu poderia ser qualquer coisa. Nunca entendi bem o que queria dizer a frase: quando crescer.
Em casa, havia uma pressão. Não tanta, mas tinha sim. Meu pai queria que a minha irmã fosse médica. Mamãe concordava com ele. Minha irmã queria ser arquiteta. Totalmente diferente do pensamentos deles.
— Ele vai ser engenheiro.
Dizia papai, apontando para mim. Nunca me interessei por engenharia. Mas meu pai queria que eu fosse engenheiro, porque ele não conseguiu terminar a faculdade de engenharia. Mas por que eu tinha que ser engenheiro no lugar dele?
Durante um tempo, pensei que queria ser piloto de avião.
— Você será responsável por muitas vidas — alertou um amigo.
Desisti. Não era nem responsável pela minha vida, como poderia ser responsável pelas outras?
Resolvi que seria escritor.
— Que tipo de livro vai escrever?
— Tem certeza disso?
— Nossa, ninguém é escritor...
— Escritor?
Ouvi muito isso. Mas não adiantou, estava decidido a ser escritor. E hoje, com três livros publicados e mais dois sendo escritos, posso dizer que sou sim escritor.
Nem sempre você precisa ser parecido com alguém, ou ser tão diferente assim. Nem sempre você precisa fazer o mesmo que o outro faz. Basta fazer o que de fato, lhe faça se sentir bem.