MEU NOVO AMIGO.

A minha esposa havia chegado do mercado, na sacola trouxera várias coisas, entre elas algo diferente, um bebedouro para pássaros, desses que se coloca em gaiolas. Curioso perguntei-lhe:

— Mas para quê isso?

— É para o beija-flor, comprei também uma mistura adocicada, apropriada para ele. Respondeu sorridente.

Ela não perdeu tempo. Preparou a mistura de cor avermelhada e colocou na garagem de casa, pendurado em um pedaço de arame que outrora fora apoio para gaiolas — talvez do antigo morador.

Não dei muita atenção ao líquido vermelho, tão pouco prestei atenção aos pássaros que dele se servia, ou melhor, do beija-flor que ali viera brindar alegremente do néctar preparado.

Semanas depois, a minha esposa esqueceu de tirar o potinho da garagem no final da tarde — como sempre fazia — ela só veio a perceber depois que cheguei do trabalho, isso já quase onze e meia da noite. Perguntei-lhe então:

— Qual é o problema em deixar o bebedouro do lado de fora? Pelo menos te poupará de recolocá-lo amanhã.

Minha filha de oito anos, interrompendo disse:

— Não pai! O senhor não está sabendo.

— Sabendo do quê?

— Dos morcegos pai — continuou — quando a mamãe deixa a água vermelha lá fora, eles aparecem e bebem tudo, não sobra nada para o beija-flor. E sei porquê o morcego bebe a água vermelha todinha.

— Mesmo — interessado em saber o motivo dos morcegos beberem a água dos beija-flores perguntei-lhe — Me conte então?

— É que a água é vermelha pai! Os morcegos pensam que é sangue, entendeu agora, por isso a mamãe tira o potinho todos os dias.

— Que interessante, muito bem — eu disse entre risadas — coitado do beija-flor, não vai sobrar nada para ele amanhã.

No outro dia, ao colocar o potinho em seu costumeiro lugar, sentei-me na cadeira de balanço que fica na garagem, na intenção de observar qual beija-flor apareceria primeiro. Para minha surpresa ele não veio, surgiu outra ave, de penas amarelas, espalhadas pelo corpo e também perto da cabeça. A ave foi direto ao bebedouro, fez estripulias, bebeu várias vezes, ficou pendurado de cabeça para baixo, virando a cabeça para o meu lado, depois brigou com uma abelha que tentou beber do líquido. Fiquei boquiaberto com aquele pássaro, que a propósito, acabei descobrindo que mora na árvore que fica em frente de casa. Voltei para dentro, era manhã de domingo, minha filha já estava acordada tomando o café, quando me viu logo perguntou:

— O que foi pai, porque o senhor está rindo sozinho?

— É o amarelinho minha filha, é o amarelinho…

— Quem é esse amarelinho?

— É um passarinho que mora na árvore de frente de casa, estou rindo por causa dele, o espertinho está bebendo toda água do beija-flor, e fazendo a maior bagunça.

Minha esposa que já sabia a respeito apenas riu, essa 'conhecida', ave de penas amareladas, vizinha da frente, virou sensação aqui em casa.

Todas as manhãs, ao pendurar o potinho de água, fico esperando por esse meu, 'diferente', amigo. Que agora — caríssimos leitores — pelo que observei, arranjou uma companheira.

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 07/07/2019
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