Na quietude da solidão
Foi um longo dia de trabalho. Foi chamado para uma palestra de duas horas numa faculdade, falou por uma hora, escreveu uma crônica pra um jornal, deu aula. Chegou tarde
por conta do trânsito caótico do Rio de Janeiro. Mora no Catete, num apartamento de dois quartos. Tomou banho quente.
Vestiu um short e camiseta, a chuva aumenta intensidade. Suspira, vai até a cozinha. Prepara um café, duas colheres de leite em pó. Na sala, colocou Chopin no velho aparelho de som e foi pra janela contemplar a chuva.
Lembrou da juventude, quando não gostava de música clássica e nem de ficar sozinho. As pessoas na rua corriam apressadas tentando escapar da chuva forte que caiam sobre as ruas do Catete.
No esforço de querer agradar todos, de nos mostrarmos o quanto somos importantes e que precisamos socializar mesmo o tempo todo e morrer sozinho é ruim. Deu um gole no café com leite e suspirou. Tinha amigos, família, colegas que essa hora estavam num barzinho da Lapa bebendo e ouvindo Mpb. Gostava de sair com seus amigos e visitar seus parentes, mas com a idade descobriu que a música clássica tinha a capacidade de relaxar, aprendeu com um professor de francês onde estudou, era o que ele sempre colocava na biblioteca na qual ele tomava conta. Agora com seus 36 anos além do piano de Chopin que tocava baixo na sala, aprendera a gostar da própria companhia, aproveitava o silêncio para ler um livro, escrever ou simplesmente não fazer nada, como agora, apenas admirando o mundo da sua janela. Não tinha nada contra em ter vários amigos nas redes sociais ou mil curtida nas fotos ele mesmo tinha bastantes amigos, várias fotos curtidas. Mas policiava bem seus horários nas redes.
Já viu quantas pessoas dedicam seu tempo pra ficar on line no seu celular e off line aqui fora? Quantas vezes deixam de prestar atenção ao que fazem ou o que acontece aqui fora? Era bom estar ali se dedicando aos pensamentos e a paisagem fria e úmida da sua janela. No quarto o seu celular vibrava iluminando com inúmeras mensagens de seus amigos chamando para festas ou bares. Ele caminhou até a estante e retirou “Ventos de Quaresma” sentou, com sua xícara pela metade de café com leite, abriu seu livro na página onde tinha parado olhou para o aparelho de som sorriu. A sala escura apenas tinha a iluminação fraca do abajur se acomodou na poltrona para ler, bebericou o café com leite e aproveitou.
As horas de solidão só é boa quando somos uma boa companhia para nós.